Traqueostomia: o que é, quando é necessária, cuidados e mais

Atualizado em 26 de março de 2019

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POR Manuela Sampaio

Traqueostomia é um procedimento que visa restabelecer o fluxo de ar para os pulmões quando a respiração natural – sem ajuda de nenhum dispositivo – e a por meio de intubação não são mais possíveis.

A técnica é programada em parte dos casos, mas em outros sua realização é emergencial e importante para salvar vidas.

Entenda tudo sobre traqueostomia a seguir.

O que é traqueostomia?

Traqueostomia é um procedimento cirúrgico muito antigo, com registros na medicina hindu que remontam milhares de anos, mas que se tornou popular na prática médica somente em 1850 com a epidemia de difteria na Europa.

O procedimento consiste em fazer uma incisão na região cervical anterior (pescoço), criando um orifício na traqueia para a inserção de uma cânula que permite a entrada do fluxo do ar, restabelecendo o processo respiratório do paciente.

Para que serve?

A traqueostomia serve para permitir o fluxo de ar para os pulmões quando há problemas respiratórios ou até mesmo neurológicos que o impedem, como insuficiência respiratória aguda ou Esclerose Lateral Amiotrófica –doença neurológica em que o estímulo nervoso para diferentes funções fisiológicas, como a respiração, progressivamente diminui.

Em processos agudos, costuma ser feita anteriormente uma intubação orotraqueal, técnica em que uma cânula é introduzida da boca até a traqueia e, em seguida, conectada a um aparelho de ventilação mecânica, que gera um fluxo de ar adequado para permitir a respiração do paciente. Tal método, no entanto, não deve ser mantido por longos períodos, sendo indicado substituí-lo pela traqueostomia.

Como é feita?

Preparo

O preparo para traqueostomia abrange os procedimentos habituais de uma intervenção cirúrgica, como jejum, realização de exames, anestesia, entre outros. Porém, existem situações de extrema urgência que demandam medidas imediatas e, portanto, excluem tais preparativos.

Procedimento

A cirurgia é feita com uma incisão na parte anterior do pescoço. Em seguida, é colocada uma cânula de traqueostomia, que mantém a via aberta e, assim como o tubo orotraqueal, pode ser conectada à ventilação mecânica.

Dói?

Após o procedimento, pode haver dor causada pela manipulação cirúrgica e o médico pode prescrever medicações para diminuir o incômodo.

Por quanto tempo é necessária?

A traqueostomia pode ter caráter temporário ou definitivo.

A temporária ficará ativa até que seja revertida a condição que exigiu o procedimento. Na definitiva, o quadro que impede o restabelecimento do fluxo respiratório normal é irreversível, então o paciente terá de viver com a traqueostomia permanentemente.

É reversível?

A traqueostomia é reversível desde que seja resolvida a alteração de saúde que a tornou necessária em um primeiro momento, como uma pneumonia grave seguida de insuficiência respiratória aguda.

Nesses casos, equipes multiprofissionais trabalham para restabelecer a respiração normal. Feito isso, a cânula é retirada.

Riscos

Como em qualquer procedimento cirúrgico, a traqueostomia apresenta riscos:

  • Obstrução da cânula
  • Infecções
  • Sangramentos
  • Secreção excessiva
  • Lesões esofágicas
  • Fístulas
  • Disfagia (dificuldade em engolir)
  • Problemas de cicatrização

Indicações

Entre os acometimentos que impedem o processo normal da respiração e indicam uma traqueostomia, estão:

  • Obstrução nas vias aéreas resultante de tumores da laringe ou do pescoço
  • Traumatismos faciais extensos
  • Intubação prolongada
  • Insuficiência respiratória severa
  • Reações alérgicas graves com obstrução das vias aéreas

Contraindicações

Algumas das contraindicações a este procedimento são:

  • Alterações da coagulação que não possam ser corrigidas
  • Situações em que a anatomia do pescoço esteja alterada por tumor
  • Hematoma
  • Tireomegalia (aumento significativo da tireoide)
  • Sequela de procedimento cirúrgico prévio
  • Processos infecciosos das partes moles do pescoço
  • Traqueomalácia

Complicações

Após o procedimento, é imprescindível atenção a possíveis complicações.

Estas intercorrências podem ser precoces, como:

  • Sangramento
  • Traqueíte
  • Enfisema subcutâneo (presença de ar sob a pele)

Elas ainda podem se apresentar tardiamente:

  • Tardias
  • Traqueomalácia
  • Estenose
  • Fístula traqueoesofágica
  • Fístula traqueocutânea
  • Impossibilidade de retirar a cânula (por paralisia das cordas vocais, lesão da laringe, etc.)

Cuidados após a traqueostomia

O tubo da traqueostomia deve ser aspirado para remoção completa de todas as secreções, seguido de uma higienização criteriosa da cânula.

Deve-se trocar o curativo pelo menos duas vezes ao dia e adotar cuidados que não permitam a entrada de água no tubo (no banho, por exemplo).

Pode falar após traqueostomia?

É possível que o paciente volte a falar mediante o fechamento do tubo da traqueostomia, o que pode ser feito manualmente ou por meio de uma válvula fonatória, que fica encaixada na porção do tubo que se projeta no pescoço. A oclusão do tubo permite que o ar expelido dos pulmões passe pelas cordas vocais e produza a fonação.

Fontes

Pneumologista Silvio Antônio Baroni de Siqueira, do Centro Médico Consulta Aqui. CRM 38697

National Heart, Lung, and Blood Institute. What is a tracheostomy? Disponível em: www.nhlbi.nih.gov/health/health-topics/topics/trach

NHS UK. Tracheostomy. Disponível em: ww.nhs.uk/conditions/tracheostomy