Surto de hepatite A já causou duas mortes em São Paulo

Atualizado em 05 de setembro de 2018

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POR Vinicius de Vita Cavalheiro

O número de casos de hepatite A em São Paulo deu um salto de 708% em 2017 em relação ao ano passado.

Segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde, já foram registrados 517 casos da doença até setembro deste ano e duas mortes, contra 64 casos e nenhum óbito em 2016.

Outros quatro pacientes tiveram comprometimento grave do fígado, o que os fez entrar na fila por transplante.

As informações da secretaria também mostram que maioria dos casos (80%) são homens entre 18 e 39 anos que adquiriram hepatite A durante contato sexual sem proteção.

O que é hepatite A?

A hepatite A é uma doença transmitida pelo vírus VHA que provoca inflamação no fígado. Embora nem sempre manifeste sintomas, seus sinais mais comuns costumam incluir febre, dor no corpo, dor na barriga, náuseas, mal-estar geral. fadiga e icterícia — que é quando a pessoa fica com aspecto amarelado. Fezes mais claras e urina com cor escura também são possíveis sintomas de hepatite A.

Transmissão da hepatite A

A hepatite A costuma ser transmitida por via oral-fecal de uma pessoa infectada para outra saudável, ou por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados. Geralmente, a infecção ocorre após o preparo inadequado de alimentos crus ou quando uma pessoa, que tem o vírus VHA, não lava corretamente as mãos enquanto prepara uma refeição.

Mais raramente, porém, a infecção também pode se dar por meio do contato sexual oral ou anal desprotegido, como é o caso da maioria dos registros da doença em São Paulo este ano.

Surto de hepatite A no mundo

Curiosamente, algo semelhante tem acontecido na Europa nos últimos meses. Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) em junho de 2017 alertou para o surto de hepatite A em pelo menos 15 países europeus: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suécia e Reino Unido.

Segundo o documento da OMS, o perfil dos infectados é semelhante em todos os países, e coincide com o identificado no Brasil também: homens jovens e que se relacionam sexualmente com outros homens.

Por aqui, a maioria dos casos registrados este ano ocorreu a partir do segundo semestre. Até o final de junho, por exemplo, haviam sido registrado somente 138 casos na capital paulista.

Prevenção de hepatite A

Surtos de hepatite A são comuns em locais com condições sanitárias precárias, mas algumas pessoas são mais propensas a contrair a doença do que outras. É o caso de crianças, pessoas com o sistema imunológico comprometido — principalmente soropositivos e pacientes de câncer que fazem tratamento com quimioterapia — e pacientes com hepatite B e C. Para todos eles, o governo brasileiro disponibiliza vacina gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para as outras pessoas, é possível tomar a vacina na rede privada.

Por enquanto, 90% dos novos casos estão concentrados na capital paulista, mas é esperado que o número de casos aumente também em outras regiões do Brasil.

Considerada menos grave que os outros tipos de hepatite, a hepatite A tem 99% chances de cura se o tratamento for seguido corretamente. Do contrário, a doença pode levar a complicações mais graves, levando até mesmo à morte. Exames simples, porém, são capazes de identificar a presença do vírus no sangue.

O próprio SUS disponibiliza em sua rede o acesso a testes rápidos, que revelam o diagnóstico em poucos minutos. A  pessoa pode procurar o serviço diretamente nos Centros de Referência e Treinamento em DST/Aids, que ficam espalhados pela cidade em postos fixos.

Lá, é possível fazer o teste rápido para hepatite A e também para outras infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, sífilis e hepatite B.