Desde sua chegada ao Brasil, o narguilé tem se tornado cada vez mais comum, principalmente entre os jovens. O cheiro agradável e a utilização de água em seu uso criam a ideia de que não há prejuízos à saúde, porém isso não passa de um mito. Entenda o que é narguilé e como ele afeta o organismo de quem o fuma.
O que é?
Narguilé, também chamado de hookah ou arguile, é um grande cachimbo à base de água. Ele tem origem oriental e é utilizado há séculos, inicialmente para o aquecimento do ópio.
No ocidente, é usado principalmente para o tabaco, embora também possa ser usado com outros tipos de ervas, como a maconha.
Tipos
Os dois tipos de narguilé mais comuns e facilmente encontrados no Brasil apesentam tabaco misturado à essência. Eles são:
Narguilé tradicional
É formado por uma base de vidro cheia de água, um corpo de metal e, ao topo, um recipiente para o fumo, queimado a partir do aquecimento de uma placa de carvão. Ele ainda tem uma mistura de tabaco com melaço de cana ou mel, conhecida como essência.
A essência pode apresentar diferentes sabores, como menta, chocolate, frutas, entre outros. É ela que mascara o sabor do tabaco e fornece o cheiro agradável da fumaça produzida pelo narguilé, fazendo com que seja possível inalar um volume total muito maior do que o do cigarro tradicional.
Narguilé eletrônico
Muito menor que o tradicional, apresenta praticamente o formato de uma caneta, podendo ser levado facilmente para qualquer lugar.
Nele, o fumo não é aquecido por uma placa de carvão, mas por uma bateria que é carregada diretamente na tomada.
A essência utilizada no narguilé de caneta não é em forma de melaço, mas líquida.
Afinal, narguilé faz mal?
Sim, narguilé faz mal. Em uma única rodada, a exposição à fumaça do equipamento equivale ao volume da queima de 100 a 200 cigarros. Portanto, é capaz de liberar uma enorme quantidade de substâncias tóxicas ao organismo.
De modo geral, o tabaco utilizado no narguilé possui duas a três vezes mais concentração de nicotina do que o cigarro tradicional, além de chegar a ter 25 vezes mais miligramas de alcatrão e 10 vezes mais miligramas de monóxido de carbono.
Um estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles, publicado no American Journal of Cardiology, descobriu narguilé é pior que cigarro porque apenas 30 minutos de fumo do equipamento aumentam os batimentos cardíacos e elevam a rigidez arterial em grau comparável ao fumo tradicional.
Além do próprio tabaco, o carvão utilizado para aquecê-lo também oferece riscos à saúde. Muitas pessoas utilizam o à base de casca de coco, com a esperança de que o mesmo não faça mal à saúde, o que não é verdade: quando aquecido, esse tipo libera uma substância cancerígena chamada hidrocarboneto aromático policíclico.
Por fim, a água utilizada na base do narguilé tradicional não é capaz de filtrar as substâncias tóxicas produzidas com o aquecimento do tabaco. Ela retira apenas 0,5% da concentração de nicotina do equipamento, ou seja, praticamente nada. Além disso, os produtores aumentam a concentração de nicotina da essência para compensar o pouco que se perde na água.
Riscos
O narguilé apresenta 11 substâncias cancerígenas, as quais podem causar:
- Aumento do risco de câncer;
- Dano agudo ao sistema respiratório;
- Comprometimento da função pulmonar;
- Aumento da frequência cardíaca;
- Aumento da pressão arterial.
Além dos riscos apresentados acima, o compartilhamento da piteira – acessório em que coloca-se a boca para fumar – também é fonte de transmissão de doenças infectocontagiosas, como tuberculose, hepatite, gripe, herpes labial, entre outras, sendo considerado um problema de saúde pública.
Uma pessoa que fuma narguilé tem 339% mais chances de morrer de câncer de pulmão do que uma pessoa que não usa o equipamento. Uma ou duas sessões de narguilé por dia aumentam o risco de desenvolver doença pulmonar obstrutiva crônica. Quem utiliza-o uma vez ao dia já tem esse risco aumentado.
É uma droga?
O narguilé não é considerado uma droga, pois seu consumo é liberado pelas legislações vigentes.
Contudo, na composição do tabaco utilizado por ele existe nicotina, a qual é capaz de causar dependência química pela presença de substâncias psicoativas. Assim, de acordo com Stella Regina Martins, especialista em dependência química do Programa de Tratamento ao Tabagismo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP, o equipamento pode ser considerado uma porta de entrada de outras formas de fumo.
Existem essências, melaços ou líquidas, sem nicotina. A única diferença da essência sem a substância para a com é o fato de não provocar dependência, porém a concentração de compostos cancerígenos nos dois tipos é igual.
Fontes
Stella Regina Martins, especialista em dependência química do Programa de Tratamento ao Tabagismo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP (Incor) – CRM 74233
Suzana Pimenta, pneumologista do Hospital 9 de Julho – CRM 113795