Linfoma: o que é, quais são os sintomas e como tratar esse câncer

Atualizado em 21 de setembro de 2018

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POR Manuela Sampaio

Dividido nas formas Hodgkin e não Hodgkin, o linfoma é um tipo de câncer no sistema linfático cuja incidência duplicou nos últimos 25 anos, especialmente entre pessoas com mais de 60 anos, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Trata-se da reprodução anormal de células chamadas linfócitos, responsáveis pelas defesas do organismo, e entre seus sintomas mais conhecidos está a formação de “caroços” nas partes do corpo onde há linfonodos, como pescoço e virilha.

Principais tipos de linfoma

 

Célula de linfoma.

CI Photos/Shutterstock

Os linfomas se dividem em dois grandes grupos: linfoma Hodgkin e linfoma não Hodgkin. Eles se diferenciam de acordo com características morfológicas (relacionadas à forma), histológicas (composição do tecido) e imunofenotípicas (do tipo de célula presente). Dentro desses dois universos, existem inúmeros subtipos.

Linfoma de Hodgkin

A doença de Hodgkin é mais comum em jovens adultos e afeta comumente as células linfócitos B, responsáveis pela formação de anticorpos que destroem vírus e bactérias.

De acordo com a American Cancer Society, apesar de poder começar em qualquer parte do organismo, o mais comum é que este tipo de linfoma tenha origem nos linfonodos de cima do corpo, como os localizados no pescoço.

A principal diferença entre o linfoma de Hodgkin e o linfoma não Hodgkin é a presença de um tipo de linfócito chamado de células de Reed-Sternberg, que só há no tipo Hogkin.

Linfoma não Hodgkin

Esse grupo é o de maior incidência e engloba cerca de 30 subtipos de linfoma que são muito semelhantes, tanto em termos de características à análise microscópica, quanto sintomas e ação no corpo. A diferenciação se dá apenas por meio de biópsia ou análise do local acometido.

Esse tipo de linfoma comumente se inicia em linfócitos B, mas também pode começar nos linfócitos T, que têm ações diversas de defesa no organismo.

Seu risco aumenta com a idade e é mais comum após os 60 anos.

Causas

A célula linfócito é um tipo de glóbulo branco (ou leucócito), unidade do sistema imunológico que tem, portanto, a defesa do corpo contra infecções como principal função.

O surgimento de linfoma ocorre quando há uma mutação maligna nesta célula e ela inicia um processo descontrolado de multiplicação.

Maria de Lourdes Chauffaille, assessora médica em hematologia do Fleury Medicina e Saúde, explica que esse processo acontece de forma muito mais veloz que o padrão e gera linfócitos “clones”, totalmente idênticos.

Em seguida, eles podem migrar para diferentes tecidos e órgãos, locais em que causam transtornos e aumento de volume.

Fatores de risco

Apesar de a causa exata para o surgimento de linfoma ainda não ter sido descoberta, sabe-se que alguns fatores aumentam seu risco.

A especialista explica que situações que promovem o comprometimento da função imunológica – por exemplo, tratamentos com medicações imunossupressoras para doenças autoimunes, para transplante de órgãos ou mesmo quimioterapias para neoplasias malignas – estão relacionadas ao linfoma.

Algumas infecções, como as causadas pela bactéria H. pylori, que acomete o estômago, ou pelo vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose, também causam o mesmo efeito.

Além disso, a exposição a agentes químicos e radioativos também favorecem o surgimento de câncer linfático.

Sintomas

 

Sintoma de linfoma.

Gabor Kenyeres/Shutterstock

O principal sintoma é o aumento dos gânglios linfáticos, também chamados de linfonodos. Ele acontece porque as células cancerígenas se acumulam nessas estruturas.

Os linfonodos são estruturas do sistema linfático que filtram o líquido linfático e estão presentes em partes específicas do corpo, como pescoço, axilas e virilhas.

O inchaço nessas regiões também pode estar relacionado a infecções – garganta inflamada, por exemplo, pode aumentar gânglios do pescoço.

Pode haver também cansaço, perda de peso, febre e sudorese noturna, além de sintomas na área comprometida, onde as células se acumularam. “No linfoma gástrico, o comprometimento será na mucosa do estômago e os sintomas são semelhantes à gastrite ou úlcera gástrica; no caso de linfoma de pele, pode haver vermelhidão e coceira no local acometido”, explica a médica.

Diagnóstico

De acordo com o Fleury Medicina e Saúde, o exame mais importante é a biópsia da região afetada, que nada mais é do que a retirada de uma amostra do gânglio afetado.

A análise do tecido (que envolve testes exames anatomopatológico, imunoistoquímico, imunonfenotípico, citogenético e genético-molecular) é capaz de diagnosticar o tipo e subtipo do linfoma.

Após o diagnóstico, é necessário conhecer o acometimento causado pelo linfoma e para isso podem ser feitos os seguintes exames:

  • Análise da medula óssea
  • Exames radiológicos: tomografias, PET-CT (tomografia computadorizada por emissão de pósitrons, com fusão de imagens)
  • Exames ultrassonográficos
  • Outros testes bioquímicos gerais

Qual profissional devo procurar?

Médicos oncologistas, hematologistas ou onco-hematologistas são os profissionais mais adequados para diagnosticar e tratar esse tipo de câncer do sistema linfático.

Tem cura?

“Há grande possibilidade de tratamento eficaz e cura, tendo em vista os atuais avanços em onco-hematologia”, explica Maria de Lourdes. “Um linfoma diagnosticado no início, localizado, isto é, sem disseminação, pode ser curado”, finaliza.

Tratamento

Após o diagnóstico e a determinação de tipo e subtipo de linfoma, se houve disseminação da doença e do prognóstico, é indicado o melhor tratamento, que costuma ser quimioterapia com ou sem radioterapia.

Quimioterapia

A quimioterapia é feita com o uso de medicamentos que agem em todo o corpo contra as células cancerígenas. Este é um dos principais tratamentos tanto nos linfomas de Hodgkin, quanto nos não Hodgkin e pode estar associado a outras técnicas, como radioterapia e imunoterapia.

Radioterapia

O uso de altas doses de energia costuma ser associado à quimioterapia no tratamento de linfoma. Atualmente, os médicos tendem a usar menos esta terapia, priorizando os medicamentos, em função dos seus efeitos em longo prazo, segundo a American Cancer Society.

Nos casos de linfoma de Hodgkin clássico, a quimioterapia e a radioterapia juntas são mais eficazes do que separadas. A técnica é ainda mais útil quando o câncer está localizado em uma área específica do corpo.

Imunoterapia

A imunoterapia é o uso de medicações para fortalecer o sistema imunológico e fazer com que ele combata as células cancerígenas.

Pode ser usada nos dois grandes grupos de linfoma por meio de remédios orais ou injetáveis e gera efeitos colaterais como fadiga, náuseas e febre.

Terapia-alvo

Uma espécie de quimioterapia, a terapia-alvo reconhece algumas características específicas da célula cancerígena e ataca somente a ela.

Essa terapia pode ser uma opção quando a quimio não funcionou. Além disso, tende a ter efeitos colaterais mais brandos.

Transplante de células-tronco

Pode ser feito com células do próprio paciente, retiradas antes da quimioterapia, ou de alguém compatível, geralmente um familiar.

Esse procedimento, feito antes da quimioterapia, permite que o paciente receba altas do quimioterápico. Isso porque a medicação forte pode destruir a matriz óssea onde são produzidas as células sanguíneas, mas, com o posterior transplante, essa fonte se recompõe.

Cirurgia

Muito rara, a cirurgia pode ser feita quando o câncer estiver bem localizado em algum órgão ou estrutura do corpo, como baço, estômago ou tireoide, e não tiver se espalhado. Mesmo assim, a radioterapia é preferida nesses casos.

Alimentação e cuidado com infecções

A especialista explica que podem ser necessários cuidados extras em algumas situações específicas. “Se, durante a quimioterapia, o paciente desenvolver neutropenia (diminuição dos neutrófilos, um tipo de glóbulos brancos) ele deverá evitar alimentos crus”.

Além disso, é indicado não entrar em contato com pessoas infectadas por bactérias, vírus ou fungos, porque as defesas do organismo estão prejudicadas.

Prognóstico

Após o término do tratamento faz-se uma reavaliação completa do indivíduo à procura de sinais residuais da doença. Não havendo evidências, considera-se que o quadro teve remissão.

A partir daí, são feitos exames periódicos para assegurar que a doença desapareceu definitivamente. Após 5 anos, não tendo havido qualquer recaída, considera-se a cura.

Complicações

Mesmo após a cura, o paciente que enfrentou um linfoma pode conviver com algumas complicações causadas por ele, como:

  • Fraqueza do sistema imunológico e maior suscetibilidade a infecções;
  • Infertilidade temporária ou permanente causada pelo tratamento;
  • Surgimento de um novo câncer, não necessariamente um linfoma;

Prevenção

A prevenção do linfoma inclui manter uma vida saudável, evitando ao máximo infecções. Como em muitos tipos de câncer, quanto mais cedo forem diagnosticado, maiores serão as chances de cura. Por isso, é fundamental fazer check-ups periódicos e buscar ajuda médica caso surjam sintomas.