Cirrose é um problema de saúde grave que comumente é associado apenas ao alcoolismo, embora diversas outras condições podem causá-lo. Algumas delas, inclusive, agem silenciosamente durante décadas. Entenda:
O que é exatamente?
“A cirrose hepática é a consequência final da inflamação crônica do fígado, que leva à atrofia e perda das funções do órgão. Este processo de destruição tem início silencioso e pode levar pelo menos 10 anos para se manifestar”, explica o médico.
Em determinados casos, pode demorar até mais de 30 anos para chegar às consequências finais, que seriam a insuficiência hepática, o câncer de fígado e, até mesmo, a morte.
Causas
Diversos processos inflamatórios crônicos deixam o fígado com cirrose, sendo que o mais famoso, a hepatite alcoólica, é apenas um deles.
Entre estes processos estão:
- Hepatites virais crônicas
- Esteato-hepatite não alcoólica
- Doenças metabólicas
- Doenças genéticas
- Hepatites e colangites autoimunes
- Doenças vasculares
“Todas são enfermidades que podem levar a um mesmo denominador comum, que é a cirrose, tornando o fígado duro, fibrosado, cheio de nódulos, pequeno e com mau funcionamento”, ressalta o profissional.
Quais os fatores de risco para a cirrose?
O hepatologista Henrique listou os quatro principais fatores de risco para o aparecimento de cirrose.
Álcool
O primeiro deles é também o mais conhecido popularmente: o uso abusivo de álcool. De acordo com o hepatologista, a ingestão constante de ao menos 280 g por semana para os homens e de 140 g por semana para as mulheres pode causar cirrose alcoólica num período entre 10 e 20 anos.
Hepatite B e C
Caso se mantenham ativos no organismo por 20 a 30 anos, os vírus das hepatites B e C podem evoluir para a cirrose. “O da hepatite C ainda é a principal causa de cirrose no Brasil, também sendo o principal motivo para o câncer de fígado e indicação de transplante hepático”, destaca.
Esteato-hepatite não alcoólica
A obesidade e a diabetes são causas comuns de gordura no fígado. Esse acúmulo no órgão pode levar a uma doença conhecida por esteato-hepatite não alcoólica. Segundo Coelho, cerca de 10% dos casos evoluem para cirrose em 10 a 20 anos.
Outras doenças
Por fim, portadores de doenças biliares obstrutivas crônicas, doenças autoimunes que afetam as funções hepáticas, acúmulo de ferro e cobre no fígado – que pode ser causado por alterações genéticas – e mal formações hepatobiliares congênitas também fazem parte do grupo de risco para cirrose.
Sintomas de cirrose hepática
No início, nos primeiros dois a três anos, a cirrose é assintomática. Porém, posteriormente surgem sintomas gerais, como:
- Cansaço
- Fraqueza muscular
- Edemas nos membros inferiores
- Emagrecimento
- Olhos e pele amarelados
- Aumento do abdômen por acúmulo de líquidos (ascite)
- Distúrbios endócrinos
- Anemia
- Baixa nas plaquetas sanguíneas
- Mudança da cor da urina
“No homem, costuma haver sinais de feminilização, como aumento das mamas, queda de pelos e atrofia dos testículos”, acrescenta o profissional da saúde.
Diagnóstico
O primeiro atendimento pode ser feito por um clínico geral. Eventualmente, porém, o problema deverá ser acompanhado por um hepatologista ou gastroenterologista, além de quaisquer outros especialistas necessários.
“O diagnóstico é clínico, laboratorial e por exames complementares. Observa-se se o paciente está desnutrido, emagrecido, com perda de massa muscular, com olhos e pele amarelada (icterícia) e/ou com sinais vasculares na pele e vermelhidão nas palmas das mãos”, explica.
Além disso, pessoas com cirrose costumam ter o abdômen inchado,o fígado palpável e duro, e o baço crescido. Observa também se há edema nas pernas e ruptura dos vasos.
Exames
“Os exames de laboratório mostram se há anemia, baixa das plaquetas, queda nos valores da albumina e dos fatores de coagulação. Ele também avalia se há aumento das bilirrubinas e das transaminases, que são enzimas hepáticas”, diz o hepatologista Henrique Sérgio Coelho.
Já no exame de imagem, no caso a elastografia hepática ultrassônica, mede-se a dureza do fígado por meio de um método não invasivo que permite o diagnóstico da cirrose sem necessidade da biópsia.
“Outros exames de imagem, como a ultrassonografia abdominal e a ressonância magnética, mostram alterações da forma do fígado, aumento do baço e a presença de liquido na cavidade abdominal. Eventualmente, podem ainda revelar lesões focais que podem corresponder a pequenos tumores”, conta o médico.
Qual complicações podem acontecer?
Pode ocorrer ruptura de varizes no esôfago, além de sangramento no estômago e no intestino. O acúmulo de líquido pode tornar-se intratável apenas por diuréticos, requerendo uma punção (paracentese abdominal).
O paciente ainda pode apresentar infecções na pele, urina, pulmões e abdômen, além de alterações neuropsiquiátricas denominadas encefalopatia hepática.
Pode virar câncer?
A cada ano, cerca de 3 a 5 % dos pacientes com cirrose desenvolvem tumores no fígado, por isso, é importante a realização de ultrassonografia abdominal a cada seis meses para detectar possíveis tumores.
Se tratados precocemente, esses cânceres têm chance de cura de 90%. Nos casos avançados, o transplante hepático é recomendado e tem sobrevida de 80% em 5 anos na dependência da disponibilidade de órgãos.
Cirrose tem cura?
Na fase inicial e intermediária da doença, se a causa primária for tratada – por exemplo, o paciente suspende o uso do álcool ou trata a hepatite C – a cirrose regride, mas deixa sequelas anatômicas no fígado, ainda que sejam compatíveis com uma vida normal.
Vale ressaltar que o uso de álcool deve ser banido sempre, independentemente da causa que originou a cirrose.
Se a doença já estiver bastante avançada, porém – com ascite severa, perda da capacidade hepática e renal e encefalopatia hepática – é muito provável que não haja mais cura. Neste caso, apenas o transplante de fígado pode ser a solução.
Como é feito o tratamento?
Mudança de hábitos
Em primeiro lugar, é preciso evitar ou tratar os fatores desencadeantes, tais como álcool, obesidade e diabetes mellitus.
Medicamentos
Se a origem da cirrose for hepatite viral ou autoimune, serão necessários antivirais ou imunossupressores, respectivamente.
Para prevenir complicações, como hemorragia digestiva por varizes, é necessário o uso de uma substância chamada Propranolol ou um tratamento endoscópico chamado ligadura elástica das varizes.
Já o uso de laxativos e antibióticos orais pode controlar a encefalopatia. Os diuréticos e a dieta com pouco sal combatem a ascite. “Há também uma série de drogas antifibróticas que estão sendo experimentadas, mas provavelmente só serão úteis nas fases iniciais da doença”, ressalta o hepatologista.
Cirurgia
Em alguns casos, pode ser necessário transplante de fígado, ablação percutânea ou cirurgia para retirada de câncer de fígado.
Como conviver com a cirrose?
O paciente necessita de cuidados médicos contínuos, acompanhamento de especialistas e exames rotineiros.
A doença impacta a qualidade de vida, pois implica em uma série de mudanças de hábitos, como dieta, abstenção de álcool, alguma restrição a atividade física e uso contínuo de medicamentos.
Como prevenir?
O primeiro grande passo para evitar a cirrose é tomar as vacinas contra a hepatite B. Ainda, caso fique doente, o tratamento das hepatites virais crônicas nas fases iniciais é fundamental.
É importante buscar uma dieta saudável que evite a obesidade, trabalhar na prevenção da diabetes e consumir álcool moderadamente. Além disso, é recomendado fazer os exames de saúde rotineiros, incluindo os de função hepática.
Fontes
Hepatologista Henrique Sérgio Coelho, do Hospital São Lucas Copacabana. CRM: 52.18147-3