Também conhecida como transtorno da personalidade limítrofe, a síndrome de borderline é uma condição caracterizada por instabilidades no humor, falta de vínculos com outras pessoas, impulsividade e relações sociais frágeis.
Em casos mais graves, pode trazer repentinas alterações de humor, fazendo com que a pessoa viva no limite de sua personalidade. Dentre as características, o distúrbio leva os acometidos a comportamentos impulsivos, especialmente nos momentos de surto.
De acordo com a psicóloga e psicanalista Elaine Lobeiro, especialista no transtorno borderline, o quadro muitas vezes é mal diagnosticado. Entenda:
O que é
Muitas vezes confundido com esquizofrenia ou bipolaridade, borderline tem algumas peculiaridades que o diferenciam de outros transtornos.
Um fato que precisa ser observado é que o borderline não é resultado de uma característica isolada, mas de uma combinação de comportamentos com durações variadas. A condição inclui sentimentos autodestrutivos, de vazio, insegurança e irregularidade em relacionamentos afetivos e outros.
Causas
Apesar de existir uma combinação de fatores que pode culminar no aparecimento dessa condição, podemos dividi-la em três pontos principais, considerando a relevância de suas influências:
Genética
De acordo com estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Porto em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, há um fator genético vinculado à condição.
Ainda segundo a pesquisa, o aparecimento do transtorno de personalidade limítrofe é cinco vezes maior em pessoas que têm parentes de primeiro grau acometidos.
Ambiente
Muitos estudiosos indicam que pessoas que viveram sob estresse, conflitos familiares, abuso sexual e abuso psicológico, além das que consumiram substâncias como álcool e drogas sintéticas, tendem a ter mais chance de apresentar a condição.
Anormalidades no cérebro
Acredita-se que quem sofre de personalidade borderline apresente alterações em certas áreas do cérebro envolvidas na regulação emocional e agressividade.
Ainda por cima, substâncias que ajudam a regular o humor, como a serotonina, podem não funcionar adequadamente.
Fatores de risco
Pessoas com casos de transtorno de personalidade limítrofe na família têm mais chance de desenvolvê-lo, devido ao fator genético.
Indivíduos que tiveram uma infância estressante também fazem parte do grupo de risco do distúrbio.
Sintomas
É imprescindível a busca por um profissional adequado para realizar o diagnóstico e indicar o tratamento. O mais indicado, neste caso, é o profissional de psiquiatria.
Veja alguns sintomas que caracterizam a síndrome de borderline:
- Compulsão em pelo menos dois fatores de autodestruição (jogos, sexo, abuso de substâncias, alimentação, etc.)
- Insegurança
- Autoagressão ou indícios de comportamento suicida
- Medo de abandono (real ou imaginário)
- Relacionamentos interpessoais instáveis (frequentemente caracterizados pela idealização de alguém e, logo depois, desmerecimento)
- Raiva intensa e descontrolada (de forma inapropriada ou descontextualizada)
- Períodos de perda de contato com a realidade (que duram de poucos minutos a algumas horas)
- Perturbação na identidade
- Instabilidade no humor (com frequentes mudanças)
- Instabilidade emocional
- Autoestima baixa
- Refutação à críticas, regras e frustrações
Diagnóstico
O diagnóstico do transtorno de personalidade limítrofe é obtido por um psiquiatra habilitado por meio de anamnese, processo que engloba entrevista sobre histórico familiar e clínico do paciente, além de avaliação psicológica que pode incluir o preenchimento de questionários.
Qual profissional devo procurar?
O psiquiatra é o profissional mais adequado para diagnosticar o quadro. Contudo, psicólogos e psicanalistas também podem ajudar ao longo do tratamento.
Complicações
As complicações relativas ao quadro podem ser descritas como os perigos que o distúrbio pode acarretar, tanto para quem o apresenta quanto para quem está próximo da situação.
Caso não haja acompanhamento adequado, os indivíduos podem ser agressivos verbalmente e, em alguns casos, fisicamente. Desta forma, esse transtorno também prejudica amigos e familiares do acometido.
Se não tratado, borderline pode gerar desestruturação ambiental do local no qual o indivíduo está inserido, ou seja, motivar conflitos, afastamento e agressões.
Saiba quais são as principais consequências:
- Mudanças ou perdas de emprego repetidas
- Histórico criminal presente
- Relações com muitos conflitos, como estresse conjugal ou divórcio
- Automutilação, como se cortar ou se queimar
- Histórico de relacionamentos abusivos
- Gravidez não planejada, infecções sexualmente transmissíveis, acidentes automobilísticos e lutas físicas
- Tentativa de suicídio
Borderline ainda pode gerar outros distúrbios mentais, como:
- Depressão
- Consumo excessivo de álcool ou outras drogas
- Transtornos de ansiedade
- Distúrbios alimentares
- Transtorno bipolar
- Transtorno de estresse pós-traumático
- Déficit de atenção e hiperatividade
- Outros transtornos de personalidade
Tem cura?
A personalidade borderline demanda atenção e tratamento constantes, já que não tem cura.
Na maioria dos casos, após um certo período de tratamento e acompanhamento, a tendência é que os sintomas diminuam e se estabilizem.
Tratamento
O tratamento de borderline deve ocorrer de acordo com a orientação do profissional responsável.
Terapia individual
A terapia com psicólogo é um método muito indicado para quadros psíquicos, já que ajuda o paciente a lidar com o mundo de forma mais leve e equilibrada.
Com ela, é possível:
- Aprender a gerenciar emoções incômodas
- Reduzir a impulsividade
- Trabalhar a melhoria dos relacionamentos, tomando consciência de seus sentimentos e dos dos outros
- Aprender sobre transtorno de personalidade borderline
Terapia familiar
Há casos em que esse tratamento não envolve apenas o paciente, mas ambiente em que ele está inserido, ou seja, seus familiares também podem se submeter às sessões.
Novos hábitos de vida
Diminuição da exposição ao estresse, cuidado e controle com substâncias viciantes e criação de uma rotina saudável pode ajudar a pessoa com borderline a ter uma qualidade de vida melhor .
Medicamentos
Embora nenhuma droga específica seja voltada ao transtorno borderline, certos medicamentos podem ajudar com sintomas ou problemas concomitantes, como depressão, impulsividade, agressividade ou ansiedade.
Os remédios podem incluir antidepressivos, antipsicóticos ou drogas estabilizadoras do humor.
Hospitalização
Caso o paciente apresente indícios de autoagressão ou comportamento suicida, pode ser necessário um tratamento temporário mais intenso em um hospital ou clínica psiquiátrica.
Prognóstico
Quem tem borderline e se submete ao tratamento adequado pode ter uma vida normal, com relacionamentos profissionais e sociais estáveis.
Todavia, para isso é necessário ter cuidado constante, ou seja, estar em contato com profissionais habilitados, como psicólogos e psiquiatras, além de manter bons hábitos de vida.
Prevenção
Ainda não há uma maneira concreta de prevenir borderline, porém sabe-se que conviver, desde criança, em um ambiente saudável é benéfico, assim como evitar o consumo de álcool, cigarro e substâncias ilícitas.
Além disso, é importante ter uma qualidade de vida boa, com boa alimentação e prática de atividades físicas.
Fontes
National Institute of Mental Health. Borderline personality disorder. www.nimh.nih.gov/health/topics/borderline-personality-disorder/index.shtml
American Psychiatric Association. Borderline personality disorder – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders DSM-5. https://dsm.psychiatryonline.org
Manual Merck para Família