Bronquiolite: o que é e como identificar doença séria que atinge bebês e crianças

Atualizado em 24 de setembro de 2018

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POR Manuela Sampaio

Mais comum até os dois anos de idade, a bronquiolite pode surgir como um simples “nariz escorrendo” e se tornar uma dificuldade respiratória séria, a ponto de necessitar de cuidados intensivos.

Por isso, a atenção em casos de bronquiolite em bebês e crianças é importante desde os primeiros sintomas até a resolução do quadro.

A boa notícia é que, uma vez resolvida, raramente a condição deixará sinais de sua passagem, sendo completamente curada.

O que é bronquiolite?

O pneumologista João Adriano de Barros, do Hospital Nossa Senhora das Graças, explica que bronquiolite nada mais é que a inflamação dos bronquíolos, pequenos canais localizados dentro dos pulmões, por onde o ar passa.

A traqueia, ramo principal que conduz o ar do nariz e da porção superior do sistema respiratório para sua parte inferior, se divide em brônquios principais que, por sua vez, se bifurcam em canais cada vez menores.

Os bronquíolos são as divisões finais desses túneis. “São os menores brônquios, localizados na periferia dos pulmões”, conta o especialista.

Bronquiolite x bronquite: qual é a diferença?

A diferença principal entre bronquite e bronquiolite está na estrutura do pulmão atingida.

Enquanto a bronquiolite atinge bronquíolos, os tubos menores localizados “nos cantos” dos pulmões, a bronquite afeta estruturas de diâmetro maior que ficam na parte mais central dos órgãos, os brônquios.

A bronquiolite é mais comum em crianças e bebês, mas pode acometer também idosos e pessoas alérgicas quando expostas a substâncias irritantes, além de indivíduos com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

Os sintomas das duas doenças podem ser parecidos, com falta de ar, chiado no peito e tosse com secreção.

Causas

Em bebês

Há vários motivos para o surgimento de bronquiolite. De acordo com o especialista, entre as causas mais comuns estão as infecções, predominantemente causadas por vírus.

“O grande causador em crianças é o Vírus Sincicial Respiratório”, explica João Adriano. Também chamado pela sigla VSR, é transmitido por secreções de nariz e boca e pode gerar desde sintomas leves, como nariz escorrendo, até mais sérios, característicos de bronquiolite.

“A bronquiolite também pode ocorrer após um processo infeccioso, como se fosse uma cicatriz”, diz o médico, “como depois de uma pneumonia, tuberculose ou infecção por fungo”. Nesses casos, a infecção é sanada, mas deixa os bronquíolos inflamados, alterando a passagem de ar pela região.

Em adultos

Nos adultos, a bronquiolite pode ser ocasionada por inalação de substância tóxica, como gás, mofo e elementos presentes em penas de pássaros. Ela ainda pode ter relação com doença autoimune, como reumatismo e artrite reumatoide.

Ainda nas pessoas mais velhas, há a possibilidade de que a condição surja como manifestação de rejeição a um transplante, especialmente pulmonar ou de medula óssea.

“Caso não seja encontrada uma causa especifica, ela é chamada de bronquiolite idiopática”, explica João Adriano.

É contagioso?

Caso a bronquiolite seja transmitida por micro-organismos, como o vírus da gripe, o rinovírus (causador do resfriado comum) e o pneumococo (relacionado a pneumonias), ela pode, sim, ser contagiosa. Mas isso não vale para as outras possíveis causas.

Fatores de risco

Além da idade, existem outros fatores que aumentam as chances de ter bronquiolite e já foram identificados pela ciência.

Entre eles, merecem destaque prematuridade – que está relacionada à imaturidade do sistema respiratório e imunológico –, exposição do bebê à fumaça de cigarro e tempo reduzido de aleitamento materno, que tem papel fundamental na imunidade.

exposição à fumaça de cigarro

Exposição da criança à fumaça de cigarro é uma das causas da bronquiolite

Condições pulmonares, imunológicas ou cardíacas prévias, assim como a convivência com muitas crianças, aumenta a chance de transmissão de vírus que predispõem a doença.

Bronquiolite em bebê

A doença é mais comum em crianças e bebês porque está muito relacionada ao vírus VSR, que circula predominantemente nessas faixas etárias.

Além disso, a imaturidade do sistema imunológico infantil o expõe a vírus de maneira mais pronunciada que crianças mais velhas e adultos. Já o sistema respiratório, ainda em desenvolvimento, também contribui para que a doença seja mais grave em crianças com menos de três meses.

Sintomas

A bronquiolite pode causar dificuldade respiratória, tosse, presença de secreção expelida na tosse, sibilância (o famoso chiado no peito) e sensação de falta de ar.

A dificuldade respiratória pode ser grave a ponto de requerer internação hospitalar para cuidados mais intensos.

Caso os pais percebam que a criança está fazendo muito esforço para respirar, devem encaminhá-la à urgência médica. Os sinais que indicam isso são:

  • Respirar muito rápido
  • Fazer muito esforço para respirar: observável por meio do uso excessivo da chamada musculatura respiratória, com contrações abdominais fortes, “esforço” nas costelas e nos músculos do pescoço
  • Cianose: roxidão causada pela deficiência da chegada de oxigênio a algumas partes do corpo, como dedos das mãos e pés

Diagnóstico

O diagnóstico da bronquiolite ocorre principalmente por meio de avaliação física feita por um médico. Além de observar os sinais da doença, ele poderá fazer um teste simples chamado oximetria de pulso, que mede quanto oxigênio o sangue está transportando e reflete como está a chegada do gás aos pulmões.

Além disso, poderá ser solicitado um raio-x, que permitirá ao médico ver como está o pulmão do paciente, se o ar está chegando adequadamente a todos os seus espaços e o trabalho que está sendo feito para respirar.

Um outro exame comumente feito e que detecta se o causador da bronquiolite é o Vírus Sincicial Respiratório é a coleta de secreção e posterior análise laboratorial.

Qual profissional devo procurar?

Como a doença atinge prioritariamente crianças, ela pode ser tratada por um pediatra, além do pneumologista.

Tem cura?

A bronquiolite é uma doença curável. A grande maioria das crianças afetadas se cura em 3 ou 5 dias após o início da manifestação dos sintomas, sem que fiquem sequelas.

Tratamento para bronquiolite

Suporte ventilatório

O tratamento da bronquiolite envolve suporte ventilatório, com uso desde acessórios que disponibilizam uma dose extra de oxigênio para o paciente até máscaras e máquinas que ajudam o ar a entrar nos pulmões, a chamada ventilação não-invasiva.

Em casos graves em que a respiração esteja muito comprometida, pode ser necessária a colocação de um tubo através da boca, chegando até a traqueia, e uso de ventilação mecânica, um aparelho que lança ar para dentro do sistema respiratório. Nessas situações, o paciente deve estar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Fisioterapia

Também costuma ser feita fisioterapia respiratória, cuja equipe – além de fazer parte do corpo multidisciplinar que planeja o suporte ventilatório do paciente – utiliza técnicas, muitas vezes através de exercícios, para restabelecer a respiração adequada.

Medicamentos

Os remédios utilizados incluem anti-inflamatórios, que visam diminuir a inflamação bronquiolar, broncodilatadores, para dilatar os bronquíolos e facilitar a passagem de ar, e antibióticos, para combater as infecções secundárias.

Prognóstico

Com ótimo prognóstico, a doença não deixa sequelas na grande maioria dos casos. Apesar disso, é observada uma correlação com a asma em algumas crianças, mas ainda não se sabe se a bronquiolite gera uma predisposição ou se o acometimento deixa bebês mais suscetíveis à bronquiolite.

Complicações

A principal complicação da bronquiolite é a Insuficiência Respiratória Aguda.

Potencialmente grave, esse quadro impede que seja feita adequadamente a troca gasosa nos pulmões. Ou seja, o oxigênio não é passado do ar ao sangue da maneira ideal, e, em consequência, não é transportado para todos os órgãos e tecidos do corpo, que precisam dele para funcionar corretamente.

Nesses casos, o paciente poderá precisar ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva e usar ventilação mecânica.

É perigoso? Pode matar?

A bronquiolite pode, sim, ser perigosa e levar o paciente a óbito. Esses casos estão relacionados à insuficiência respiratória aguda grave e, segundo o médico, é por isso que o tratamento da bronquiolite deve ser feito no hospital, já que assim se minimiza riscos.

Prevenção

A vacinação é importante para prevenir alguns agentes que podem gerar bronquiolites, como o vírus causador da gripe e de pneumonias.

Por isso, é indicado que sejam dadas a vacina contra o vírus influenza (“da gripe”) e as antipneumocócicas, que previnem o pneumococo causador de infecção pulmonar.

vacinação criança

Prevenção: vacinação é uma delas

Também é fundamental redobrar a atenção nos meses em que a temperatura cai. Nessa época, é importante ficar atento aos primeiros sintomas de bronquiolite para tratar o quanto antes, além de evitar locais com aglomerações de crianças e lavar sempre as mãos.

Tome medidas para manter a imunidade alta, como ter uma boa alimentação e ingestão de líquidos, e mantenha controladas doenças crônicas, como alergia, asma e rinite.

 

Fonte

Pneumologista João Adriano de Barros, do Hospital Nossa Senhora das Graças. CRM 10460/PR

Fio Cruz. Bronquiolite: conheça os sinais e saiba como tratar. http://www.iff.fiocruz.br/index.php/8-noticias/369-bronquiolite