Exames pré-natal são testes laboratoriais que toda mulher grávida deve fazer ao longo dos nove meses de gestação. Há 11 principais que devem ser feitos a fim de diagnosticar e até prevenir doenças sérias, que não raro levam ao aborto ou à morte da mãe.
Os exames são essenciais principalmente quando se leva em consideração que 15% das mulheres têm gestação de alto risco. Assim, a partir do histórico pessoal e familiar da paciente, é possível definir um direcionamento efetivo para identificar fatores que aumentam a chance de complicações.
Alguns testes de pré-natal são obrigatórios, conforme determinação do Ministério da Saúde, como é o caso dos exames que detectam doenças infectocontagiosas, como HIV. Outros são realizados de acordo com a necessidade.
Abaixo, damos detalhes sobre cada um dos exames. Confira e tire suas dúvidas.
Principais exames pré-natal
Além dos tradicionais exames pré-natal, ginecologistas e obstetras têm o costume de realizar exames físicos nas gestantes, a fim de encontrar quaisquer alterações que exijam uma investigação mais profunda.
Costuma-se verificar o peso da mulher, medir sua altura, avaliar a tireoide, fazer uma inspeção de pele e mucosas, como boca, e a clássica ausculta cardiopulmonar.
Confira os exames clínicos mais importantes no pré-natal:
Exame de fezes
O exame de fezes investiga a presença de parasitas no intestino que podem provocar anemia, entre outros problemas.
Quando deve ser feito: no início da gravidez e caso a gestante apresente alguma queixa durante os nove meses.
Glicemia em jejum
O exame de glicemia, conhecido popularmente como glicemia em jejum, é solicitado pelo ginecologista para medir a quantidade de glicose presente na corrente sanguínea, o que permite identificar eventuais quadros de intolerância à glicose e diabetes.
Se as taxas estiverem muito acima do normal, pode ser que a mulher esteja com diabetes gestacional, que exige cuidado e atenção especial, pois pode comprometer a gravidez.
O exame costuma ser feito em jejum de 8 horas, em que é medida a quantidade de glicose quando não houve ingestão recente de alimentos. Ele pode ser feito durante a chamada curva glicêmica — duas horas após a ingestão de alimentos.
Quando deve ser feito: geralmente, logo no início da gravidez. Deve ser repetido na 26ª semana, fase em que o corpo da gestante já encontra mais dificuldade em absorver o açúcar.
Grupo sanguíneo (sistema ABO) e fator Rh
É essencial realizar o exame de compatibilidade do sangue negativo e positivo, que verifica justamente a compatibilidade de sangue do casal. Se a mãe for Rh negativo e o pai Rh positivo, por exemplo, a mulher precisa realizar um tratamento para que o corpo dela não rejeite o bebê caso ele seja Rh positivo.
Quando deve ser feito: primeiro trimestre.
Hemograma completo
O hemograma é como se fosse um conjunto de exames de sangue que analisa a quantidade de glóbulos vermelhos (hemácias), glóbulos brancos e plaquetas.
Ele é necessário principalmente para verificar sinais de infecção, anemia ou alterações no número de plaquetas.
Quando deve ser feito: geralmente, são pedidos três hemogramas ao longo da gestação – um em cada trimestre. Todavia, podem ser solicitados mais, dependendo do caso.
Papanicolau
O exame de papanicolau é importantíssimo para prevenir câncer de colo de útero.
É conhecido como exame colpocitológico e deve ser feito por todas as mulheres entre 21 e 65 anos – portanto, cobre praticamente toda a vida fértil da mulher.
Quando deve ser feito: logo na primeira consulta pré-natal, a fim de afastar de imediato qualquer suspeita de câncer. Mas o exame deve ser realizado pelo menos uma vez ao ano, independentemente de gravidez ou não.
Reação à toxoplasmose e rubéola
Esses exames indicam se a gestante já teve contato com os agentes causadores de toxoplasmose e rubéola. Eles permitem identificar há quanto tempo a mulher teve esse contato ou se ele aconteceu já durante a gestação.
Dependendo do resultado, o tratamento pode evitar as complicações como malformações, problemas neurológicos e até cegueira e surdez no bebê.
Quando deve ser feito: no início do pré-natal e repetido no terceiro trimestre de gestação.
Sorologia para HIV
A transmissão vertical de HIV – ou seja, quando o vírus é transmitido de mãe para filho durante a gestação, no momento do parto ou na hora da amamentação – ainda é uma realidade em muitos países.
Por isso, é fundamental que a mulher realize o teste de sorologia para HIV não somente quando está grávida, mas com certa periodicidade. Na gestação, porém, este exame é ainda mais importante, pois não é porque a futura mãe eventualmente seja soropositiva que o bebê também será.
Hoje, existem formas de evitar que a transmissão vertical ocorra. Geralmente, fazendo uso dos medicamentos antirretrovirais – indicados para todos e com o objetivo de reduzir a carga viral de HIV na corrente sanguínea – já é possível evitar a transmissão.
Quando deve ser feito: pelo menos uma vez a cada 6 ou 12 meses (antes da gravidez) e sempre no início do pré-natal.
Sorologia para hepatites virais
Da mesma forma que o exame de sorologia para HIV, também estão disponíveis testes sorológicos para as hepatites virais. Das três formas mais comuns da doença, as hepatites B e C têm maior probabilidade de transmissão sexual do que a hepatite A, que geralmente ocorre por meio da ingestão de alimentos e água contaminados.
Caso a gestante apresente uma hepatite viral e não faça o tratamento corretamente, o desenvolvimento do bebê pode ser comprometido.
Quando deve ser feito: uma vez no primeiro trimestre de gestação e outra no terceiro trimestre (ou mais vezes, conforme orientação médica).
Sorologia para citomegalovírus (CMV)
O citomegalovírus (CMV) é da mesma família dos vírus da catapora, herpes simples, herpes genital e herpes-zóster, e uma das suas formas de transmissão é pela via vertical – de mãe para filho.
A presença deste vírus no organismo da mulher grávida pode prejudicar o desenvolvimento do feto, provocando malformações – ainda que seja uma doença relativamente rara.
Quando deve ser feito: da mesma forma que os exames de sorologia para hepatites, deve ser feito uma vez no primeiro trimestre de gestação e outra no terceiro trimestre (ou mais vezes, conforme orientação médica).
Ultrassonografia
São feitos ultrassons de vários tipos, um em cada trimestre da gestação:
- O ultrassom transvaginal é feito para verificar a viabilidade da gestação, para confirmar idade gestacional e para afastar qualquer hipótese de gravidez fora do útero;
- O ultrassom morfológico é feito para verificar como o feto está se formando e afastar a suspeita de má formação e anencefalia;
- E o ultrassom que mede os batimentos cardíacos, por fim, é realizado para descartar eventuais problemas de saúde conforme o bebê vai se desenvolvendo.
Quando deve ser feito: a frequência de ultrassons é determinada pelo médico ao longo da gestação, mas geralmente são solicitadas quatro ultrassonografias:
- Uma logo na primeira consulta pré-natal;
- Uma entre as 11ª e 14ª semanas de gestação;
- Uma entre as 20ª e 24ª semanas de gestação;
- Uma por volta da 32ª semana de gestação.
Urina
O exame de urina é realizado para detectar sangramento, presença de pus (leucócitos), hemácias ou de proteínas na urina, que podem indicar alguma infecção urinária, incontinência urinária ou inflamação qualquer.
É um teste simples e que pode evitar complicações sérias para a gestação. Uma infecção urinária que não é tratada, por exemplo, pode levar ao parto prematuro e a outros problemas de saúde para a própria mãe — principalmente se a infecção passar para os rins ou outras partes do corpo.
Este exame também é conhecido como urocultura, pois identifica a presença de bactérias na urina.
Quando deve ser feito: logo na primeira consulta de pré-natal, mas deve ser repetido pelo menos duas vezes ao longo da gestação, ou sempre que o médico solicitar.
Frequência de consultas durante a gravidez
Para uma gestante que não apresenta fatores de risco, estabelece-se que sejam realizadas pelo menos duas consultas: uma no início do pré-natal e outra entre as 29ª e 32ª semana de gestação, de acordo com recomendações do Ministério da Saúde.
É importante lembrar que o intervalo entre duas consultas não deve ultrapassar oito semanas.
É recomendado realizar no mínimo seis consultas, sendo uma mensal até a 28ª semana, depois quinzenal dos sete aos oito meses, e duas semanas antes dos nove meses.
Fontes
Ginecologista Olímpio Barbosa de Moraes Filho, presidente da comissão de Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Ministério da Saúde. Assistência Pré-Natal. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pre_natal.pdf