Dieta HCG: como funciona regime que usa injeções de hormônio da gravidez?

Atualizado em 29 de julho de 2019

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POR Lucas Coelho

Dieta HCG foi inventada na década de 1950 pelo médico britânico Albert Simeons, mas vem ganhado fama pela internet nos últimos anos. Ela se baseia na ingestão de pouquíssimas calorias aliada a injeções de hormônio da gravidez e, apesar de muitos alegarem que funciona, especialistas alertam para a falta de comprovação científica e os prejuízos que pode trazer à saúde.

O que é a dieta e o HCG?

baixo valor calórico

Evgeny Karandaev/Shutterstock

A nutricionista Lenita Borba, conselheira do Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo e Mato Grosso do Sul (CNR-3), explica que a dieta do HCG é baseada em um cardápio de baixíssimo valor calórico e na aplicação diária de injeções do hormônio gonadotrófico coriônico humano (HCG), que é produzido naturalmente pela placenta durante a gestação.

Como é feita?

A dieta HCG geralmente consiste em três fases:

Fase 1

A primeira é chamada “fase de carregamento” e consiste na aplicação do hormônio e no consumo de comida rica em gordura e calorias por dois dias.

Fase 2

A segunda fase é a da perda de peso e requer que a pessoa continue aplicando o HCG, mas agora mude sua alimentação para apenas 500 kcal diárias por até seis semanas.

Fase 3

Por fim, na terceira fase, denominada “manutenção”, o indivíduo interrompe o HCG e, por três semanas, gradualmente passa a aumentar o consumo calórico, evitando o açúcar.

Funciona?

Em 1954, Simeons combinou a redução diária de até 500 kcal na alimentação com a aplicação de HCG. De acordo com relatos do médico, foram observados resultados como diminuição de peso, controle do apetite e perda de gorduras localizadas na coxa, barriga e quadris. Diversos estudos realizados nas décadas seguintes não conseguiram comprovar a eficácia desta combinação.

O Instituto de Pesquisa em Medicina Extramural, da Faculdade de Medicina da Universidade de Vrije, em Amsterdã, na Holanda, publicou em 1995 os resultados de uma meta-análise de todos os estudos realizados até então sobre a dieta HCG. A conclusão foi que, apesar de as poucas calorias causarem diminuição do peso, não é possível observar qualquer influência de que o HCG emagrece.

Proibições

Embora possa ser comprado em diversos sites e farmácias — com preços que variam absurdamente, podendo custar de R$ 200 a até mais de R$ 2 mil — diversos países tentam inibir este tipo de comércio.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Food and Drug Administration (FDA), que é uma agência federal do Departamento de Saúde do país, já processou diversas pessoas que vendiam o hormônio sob a promessa de emagrecimento, vistos que essas drogas só podem ser vendidas com prescrição para tratamentos de infertilidade feminina ou outras condições específicas.

O HCG, teoricamente, ajudaria a inibir a fome e a promover a queima de gordura sem ocasionar perda de massa muscular. “Pesquisas mostram que esse hormônio não tem resultado sobre o apetite e não provoca a perda de gordura”, diz nutricionista. “A perda de peso que acontece está associada apenas ao baixo consumo de calorias”, destaca.

Mas e as pessoas que fizeram e obtiveram resultado?

A recomendação para uma dieta saudável diz que o consumo diário ideal está em torno de 2 mil kcal. Já a dieta HCG preconiza entre 400 e 600 kcal por dia.

“Ao consumir menos calorias do que o nosso corpo necessita, fazemos um balanço negativo, ou seja, o corpo precisará de outra forma para sobreviver. Desta maneira, as calorias serão provindas dos depósitos muscular e de gordura do organismo”, esclarece a nutricionista.

É provável, então, que a dieta HCG, assim como a Dieta do Ovo, acarrete em uma perda de peso que, muitas vezes, pode até ser significativa. A grande questão no preço deste método de emagrecimento é que existem diversos efeitos indesejáveis e perigosos.

Malefícios e riscos

queda de cabelo

Nalada Nagawasuttama/Shutterstock

Pelo simples fato de ser uma dieta extremamente restritiva em calorias, a dieta HCG cria um déficit no consumo de vitaminas e minerais. Algumas das complicações que podem surgir a partir desta deficiência na alimentação são queda de cabelo, unhas fracas, sensação generalizada de fraqueza, letargia, mal-estar e até um estado de desnutrição.

“Por isso não é recomendado uma dieta com menos de 1200 calorias para o emagrecimento, já que geralmente ela resulta em deficiência de vitaminas e minerais”, atenta Borba.

Além disso, o uso do hormônio pode gerar modificações no metabolismo e aumentar o risco de outras alterações, como hipoglicemia, hipertensão e disfunções metabólicas.

Um ponto importante diz respeito à manutenção de um plano alimentar saudável para toda a vida. “Da forma como é, a dieta HCG não traz tais características e também apresenta riscos à saúde”, ressalta a especialista.

Efeitos colaterais

De acordo com o site da FDA, manter apenas 500 kcal por dia pode causar pedra nos rins, mal funcionamento dos músculos e nervos, além de arritmia cardíaca.

Sobre a aplicação do hormônio, vários efeitos colaterais podem ser experimentados, variando de simples dores de cabeça e inchaços nos pés e nas mãos até o aumento de mamas em homens, depressão e a formação de coágulos sanguíneos.

Apesar de nutricionistas e médicos prescreverem dietas de consumo calórico bastante baixo para determinados pacientes , isso nunca deve ser feito por conta própria e sem acompanhamento de um especialista.

Contraindicações

Justamente por sua característica de restrição de calorias, a dieta HCG não deve ser realizada por pessoas com determinados tipos de doença, especialmente sem o acompanhamento de um médico.

“Podemos listar doenças como diabetes, hipertensão, anemia e depressão”, conta Lenita Borba.

Também não é recomendada essa dieta para mulheres que tenham ovários policísticos (cistos no ovário), mioma no útero ou que apresentem endometriose.

Lactantes e grávidas também devem evitar a dieta HCG a qualquer custo. Já para os homens, as contraindicações são menores, apenas para casos de prostatite ou câncer de próstata.

Fontes

Nutricionista Lenita Borba, conselheira do CNR-3 / CRN 6733

Food and Drug Administration