Tireoidite pós-parto afeta 4 em cada 20 mulheres: o que é, sinais e mais

Tireoidite pós-parto é uma síndrome autoimune que gera disfunção da tireoide, em geral, até um ano após o parto. Pode se manifestar na forma clássica, com hipertireoidismo (tireoide acelerada) de um à três meses após o nascimento, seguido pelo hipotireoidismo (tireoide preguiçosa), mais comum dos seis meses em diante.

O quadro pode voltar ao normal após um ano ou evoluir para hipotireoidismo permanente. O problema ainda pode se apresentar só com hipertireoidismo e normalizar ou evoluir para Doença de Graves (hipertireoidismo intenso causado pela produção de auto-anticorpos que estimulam à tireoide a produzir hormônios em excesso). Pode também evoluir só com o quadro de hipotireoidismo e curar-se ou transforma-se em hipotireoidismo permanente (doença de Hashimoto).

Incidência

A tireoidite pós-parto acomete de 1,1 a 16,6% das mamães, sendo que no Brasil, sua incidência foi de 13,8%, de acordo com estudo realizado em meu doutorado, no grupo de tireoide da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Caso o estudo englobasse gestantes com anticorpos contra a tireoide positivos (anti-tireoglobulina e/ou anti-tireoperoxidase), a incidência seria de 24%, ou seja, 24 mulheres em cada 100.

Sintomas

A tireoidite pós-parto pode causar, tanto no hipertireoidismo quanto no hipotireoidismo, fadiga, sintomas de ansiedade, irritabilidade, queda de cabelo, perda de libido, depressão, taquicardia etc.

Diagnóstico

Muitas vezes, as pacientes se queixam com o pediatra ou o obstetra, mas não são diagnosticadas adequadamente, sendo frequentemente confundidas com o baby blues — transtorno de humor que atinge 15 em 100 mulheres e dura cerca de duas semanas. Há casos, inclusive, em que as puérperas são encaminhadas até psiquiatras, dependendo de seu quadro depressivo.

O diagnóstico se faz por meio da medição do hormônio tireo-estimulante (TSH), da fração livre do hormônio da tireóide (T4L), dos anticorpos anti-tireoperoxidase (anti-TPO) e anti-tireoglobulina (anti-tg) e pelo ultrassom.

No hiper, o TSH estará abaixo do valor normal de referencia,o T4L poderá estar alto ou normal e pelo menos um dos anticorpos estará aumentado. No hipo, o TSH estará alto, o T4L normal ou baixo e pelo menos um anticorpo será positivo. Em ambos, o ultrassom mostrará imagem de hipoecogeneidade (escuridão), auxiliando o diagnóstico.

Tratamento

Se diagnosticadas precocemente, podem ser medicadas na fase de hipertireoidismo com beta-bloqueadores como propranolol, ansiolíticos ou anti-depressivos.

Ainda pode ser necessário doses de selênio 200ug uma vez ao dia para evitar agressão maior à tireoide e tornar a cura mais rápida.

Deve-se tentar retirar o hormônio da tireoide após um ano do parto, dependendo do nível dos anticorpos e da imagem ultrassonográfica, que avalia se houve remissão espontânea.

Com tratamento precoce, a mãe e a família têm alívio rápido de tudo pelo qual estão passando e ainda evita-se a doença permanente da tireoide.

Prevenção

O Japão e a China já fazem exames em grávidas e já as tratam com selênio para evitar a tireoidite pós-parto, mas a Europa e o Estados Unidos discutem se este deve ser um protocolo para todas as gestantes ou só para as de risco (que têm histórico pessoal ou familiar de doença tireóidea, abortamentos de repetição, anticorpos positivos contra a tireoide ou doenças auto-imunes associadas, como lúpus, vitiligo e diabetes tipo 1)

Portanto, quando for ao seu obstetra, peça para fazer estes exames, de preferência antes da gravidez. Isso evita as complicações da tireoidite pós-parto, como abortos, retardo mental do bebê, atraso de crescimento no útero, entre outros.

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