Atualmente, vivemos um cenário em que cada vez mais pessoas enxergam no suicídio a solução para suas dores e angústias existenciais. A realidade é que este panorama está aumentando cada vez mais devido à falta de habilidade e manejo que geralmente temos para dar espaço e falar de um tema que ainda é tabu e traz em seu significado um peso tão grande.
Gosto muito de uma frase que diz que “o suicídio é uma solução permanente para um problema temporário”, no entanto o indivíduo com potencial suicida tem sua fé tão abalada na vida que acredita que sua dor é uma permanência constante, uma tempestade infindável nas quais seus efeitos são sentidos como uma dor visceral.
Fim da dor
A pessoa que tenta ou comete o suicídio não quer de fato acabar com a vida e sim com a dor que sente perante sua existência. Na inabilidade que tem de usar sua energia agressiva para lidar com as situações externas as quais é acometida, usa a agressividade em si própria para se defender da dor que a situação causa. O suicídio, então, é um ato autolesivo e autodestrutivo no qual o indivíduo acredita piamente que pôr fim à vida é a melhor escolha.
Como já mencionei, o suicídio ainda é um tabu em nossa sociedade e, quando se concretiza ou é uma tentativa, geralmente é visto como sinônimo de fraqueza. Como profissional da Saúde, acredito que todas as tempestades passam! Pode ser que outras surjam, mas certamente elas também passarão. Neste sentido, é importante que se abra espaço para falar sobre as dores e, principalmente, sobre o suicídio, a fim de buscar preveni-lo.
Parafraseando a autora Karina Okajima Fukumitsu, especialista no tema, gosto de sempre questionar meus clientes da seguinte forma “por que se calar se o falar é tão importante?” (2014). Ainda levando em conta um pensamento da mesma autora, temos dia certo para nascer e morrer e, em vida, a única certeza que temos é a de que somos seres finitos. Então, se essa é nossa única certeza, por que apressar esse momento?
Importância do Setembro Amarelo
É importante que se fale e que se vivencie a dor para que, terapeuticamente, possamos construir e abrir espaço ao fortalecimento da fé do indivíduo que deseja se matar e fazê-lo acreditar que as tempestades passam. Também é importante conscientizar que constroem-se repertórios internos que levam ao fortalecimento e auxiliam a usar a agressividade em favor da situação que enfrenta e não contra si mesmo.
Neste Setembro, mês da prevenção contra o suicídio, gostaria de ressaltar pequenas ações e gestos que podem nos auxiliar a lidar com este tema e também auxiliar aqueles que constantemente pensam em tirar suas vidas como forma de alívio da dor:
À pessoa em sofrimento:
- Fale sobre suas dificuldades
- Não busque lidar com tudo que lhe acontece sozinho
- Divida o fardo
- Busque uma escuta empática
- Fortaleça sua fé
- Acredite, você não está só
- Procure ajuda
Àqueles que lidam com a possibilidade do suicídio do outro:
- Busque ter uma escuta sem julgamento
- Acolha a dor sempre que necessário
- Empreste sua fé àquele que a perdeu e, sobretudo, esteja perto da dor daquele que já não vê mais sentido em sua vida
Desta forma, podemos criar um cenário diferente, unindo-nos cada vez mais para a prevenção do suicídio e lutando a favor da vida.
Caro leitor, tenha fé! Sua tempestade vai passar!
Referências bibliográficas
FUKUMITSU, K.O. Suicídio e Luto: Histórias de filhos de sobreviventes. São Paulo: DPP, 2014.