Mês da mulher: conselhos de ginecologista da adolescência à menopausa

Atualizado em 11 de novembro de 2019

Por: Patrícia Bretz

GINECOLOGISTA | CRM 120096

Em 8 de março é comemorado o Dia Internacional das Mulheres. A data surgiu a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911 que vitimou 130 operárias.

Sei que os(as) mais mal humorados(as) torcem o nariz, alegando que mulheres não precisam de um dia específico para serem lembradas. Mas, deixando as divergências de lado, a pergunta é: há o que se comemorar, de fato? Sim, e muito!

Nós, mulheres, enfrentamos diversos desafios em cada fase de nossas vidas. Não é tão simples ser mulher. Eu, como ginecologista, espero contribuir para deixar nossa vida mais prazerosa, cheia de qualidade e sem dor – da menarca à menopausa.

Conselhos de ginecologista para mulheres

Menarca: “cuidado para não engravidar”

A menarca é a primeira menstruação da menina, que geralmente ocorre entre os 9 (cedo, né?) e os 14 anos de idade. Junto com os básicos cuidados com a higiene, vêm as modificações galopantes nas formas e no comportamento. Os pais geralmente se afastam da menina e a mãe, por vezes, não sabe lidar.

Nesta fase, geralmente escutamos “cuidado para não engravidar”, naquele tom de ameaça que só as mães sabem imprimir. Esta frase vira um mantra, que pode atrapalhar e muito a sexualidade e o prazer da garota, causando travas e traumas.

Pior ainda é quando não escutamos nada. Paira no ar aquele grande silêncio. Uma incômoda lacuna se abre. Flagramos horrorizadas, a amiguinha da rua, grávida aos 13 anos de idade, deixando a boneca, a escola e os sonhos inocentes de lado, pelo menos, temporariamente.

Gravidez na adolescência parece doença contagiosa. Muitos pais silenciam. Os amigos da mesma idade não têm como ajudar. Aborto é algo que, como médica, não posso apoiar. E a escola oferece poucos recursos para que a jovem garota explore e conheça seu corpo com a devida segurança.

Para piorar o cenário, os hormônios e o desejo sexual seguem à milhão nesta fase da vida, não é mesmo? E as meninas simplesmente não têm maturidade para tomar com regularidade a difundida, porém nem tão eficiente, pílula anticoncepcional.

O conselho que dou é: falem, falem e falem. Falem sobre sexo hoje e sempre. Aliás, comecem na infância. E nunca deixem de falar. Nesta fase da adolescência, em específico, é importante que a menina seja acompanhada pela mãe à primeira visita ao ginecologista (e sem brigas, por favor).

E também aconselho que optem por métodos contraceptivos que não sejam a pílula, como o Implanon (implante que dura 3 anos) ou DIU Mirena. Ah, vacinem suas meninas contra o HPV e falem sobre o uso da camisinha para ajudar na contracepção, no cuidado, amor-próprio e na prevenção de doenças.

Meninas com autoestima em dia é o que desejo, afinal, a vida é linda nesta fase também.

Fase adulta: “você ainda não engravidou?”

Bons anos após a adolescência, muitas de nós adiaram a maternidade para priorizar carreiras e estudos ou mesmo atividades como viagens e esportes. E agora?

Uma idade boa para se engravidar pela primeira vez seria até os 36 anos de idade. Claro que há inúmeros recursos como a reprodução assistida, o congelamento de óvulos e até mesmo a barriga de aluguel, a ovodoação e a produção independente. Apenas alerto que tais práticas requerem tempo e dinheiro, bem como podem não funcionar ou demorar mais que o esperado.

Também recebo em meu consultório um novo tipo de mulher, que é aquela cujo sonho da maternidade simplesmente não bate à porta. E tudo bem. Nada como ter essa liberdade sobre o próprio corpo e poder falar abertamente sobre o assunto.

Independente do caso, o fantasma da endometriose assombra muitas delas – tanto as mais jovens, quanto as que adiaram a maternidade ou aquelas que não desejam ser mães. Hábitos de vida contemporâneos e alimentação de industrializados ajudam a explicar o fenômeno. Trata-se de uma doença de difícil diagnóstico e com dor difusa que atrapalha atividades mais simples. Implantes hormonais bem dosados são tiro certo para acaba com o desconforto. Quer coisa melhor?

Entretanto, se o seu sonho é ser mãe, procure ajuda, mesmo com a tal da endometriose instalada, pois os recursos da Medicina estão aí para isso.

Mesmo que você esteja mais velha, é possível. Além disso, a maturidade traz outros recursos e belezas à maternidade.

Ressignificando a menopausa

Sem muitos avisos, ela chega de mansinho e se instala. O fluxo menstrual já não é mais o mesmo, o desejo sexual também não e, para completar, algumas mulheres sentem famosas ondas de calor, secura vaginal e forte instabilidade emocional.

Um belo dia a menstruação simplesmente cessa. Parece um grande pesadelo, mas é apenas a menopausa. De novo, o silêncio se instala (lembra da adolescência?) e nem mesmo as amigas querem conversar sobre o assunto, como se fosse possível interromper este processo natural por meio das palavras não ditas.

Vou te contar um segredo: não precisa ser assim.

A menopausa acontece lá pelos 50 anos, antes ou depois, dependendo de cada organismo. Muitas mulheres relatam os famosos sintomas, outras não. Contudo, a parte mais importante é como lidamos com ela, isso que irá determinar nossa qualidade de vida.

Fato é que a menopausa é linda e deve ser acolhida. É a fase na qual a mulher está mais livre para fazer o que realmente gosta e se redescobrir, inclusive sexualmente. Tudo o que temos de fazer é nos ajustar para recebê-la, assim como fizemos na menarca (foi fácil começar a menstruar?).

Do ponto de vista biológico, os implantes hormonais, com dosagem equilibrada, altamente tecnológicos e fácil de serem implantados em consultório, aliviam os inconvenientes sintomas e podem dar aquele ‘up’ se o problema for a falta de libido. O cenário não é nada mau. A medicina avançou e muito.

Já a parte psicológica se resolve com o cultivo de bons pensamentos e boas relações. Quem sabe um novo namorado? Um hobbie, um sonho, uma inspiração. Se ficar pesado demais, não hesite em procurar ajuda, como psicoterapia, por exemplo.

Tenho verificado sem surpresa, mas com muita admiração, mulheres que considero ícones ageless, aos 50, 60, 70, 80 de idade, trabalhando no que gostam, estudando algo inusitado e praticando atividades físicas. Não é possível determinar a idade dessas mulheres, muito menos limitar seus sonhos.

Um último conselho? Procure se alimentar corretamente, manter o peso correto e ter bons hábitos. E sempre procure ajuda de um médico de sua confiança.

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