Gravidez indesejada e aborto: porque é cada vez mais comum?

Atualizado em 11 de novembro de 2019

Por: Patrícia Bretz

GINECOLOGISTA | CRM 120096

O Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou o segundo e último dia de audiência pública para debater a ação apresentada pelo PSOL, com assessoria técnica do Instituto de Bioética Anis, que pede que o aborto não seja considerado crime quando feito até a décima segunda semana de gravidez.

Então vamos aos dados em relação ao que acontece na contracepção. Acabo de voltar de um curso e o que foi dito é que as mulheres têm cada vez mais acesso aos métodos anticoncepcionais de planejamento familiar, porém o número de gravidez indesejada subiu de 46% (em 2006) para 55,4% (em 2014). Alarmante, não é mesmo?

Embora um filho seja uma benção que modifica toda nossa vida, nem sempre estamos preparadas para ele. Aquele ser requer amor e todo tipo de cuidados e atenção, além de uma vida minimamente estruturada.

Muitas mulheres simplesmente não podem ou não querem filhos, mas engravidam. Por quê?

Métodos contraceptivos x Gravidez indesejada

Isso ocorre, dentre outros fatores, porque de todas as mulheres que usam métodos contraceptivos, apenas 2% aderem aos de longa duração – como DIU, Implanon, implantes hormonais e laqueadura.

Ou seja: 98% das mulheres ainda utilizam a pílula anticoncepcional que, apesar de ser acessível, é um método bastante falho. Quem nunca esqueceu ou se atrapalhou em tomar o comprimido no dia certo?

O que recomendo às minhas pacientes é que recorram a métodos mais eficazes, como os já citados. Os contraceptivos reversíveis de longa ação (como os implantes e DIUs) são uma ótima opção para reduzir a taxa de gestações não-planejadas.

E o aborto?

Quanto ao aborto, não cabe a mim, como médica, opinar. Uma pesquisa da Universidade de Brasília e do Instituto Anis apontou dados que mostram que uma em cada cinco mulheres brasileiras de até 40 anos já fez um aborto, com impacto maior nas faixas mais pobres.

Entendo que cabe à sociedade e à justiça brasileira decidirem o que fazer em relação ao aborto e às mulheres mais carentes que acabam interrompendo a gravidez com método nada ortodoxos, em clínicas clandestinas.

Por isso mesmo, desenvolvo um trabalho voluntário em comunidades carentes, com a colocação de DIU nas mulheres que assim o desejarem. Em 10 anos de trabalho, já foram cerca de 500 pacientes em lugares variados, como abrigos e tribos indígenas. Acredito bastante nesta missão!

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