Esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico caracterizado por alteração no funcionamento do cérebro que faz com que o paciente não consiga diferenciar o real do imaginário.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 21 milhões de pessoas em todo o mundo apresentam a doença, que geralmente aparece no fim da adolescência e início da vida adulta. Ainda de acordo com a entidade, pelo menos metade dos pacientes com esquizofrenia não recebem tratamento adequado.
Entre outros fatores, isso pode acontecer porque, quando manifestada na adolescência – período bastante marcado por conflitos naturais típicos dessa fase da vida – muitas vezes acaba passando despercebida.
Tipos de esquizofrenia
Existe muita desinformação no que diz respeito à esquizofrenia. Ao contrário do que muitos podem pensar, pessoas com esse transtorno não são perigosas e tampouco possuem dupla personalidade.
Muitas vezes, a condição é compreendida como um transtorno associado à presença de alucinações, mas nem sempre é o caso.
Por isso, é extremamente importante estar ciente do que realmente está por trás da doença, seus sinais mais frequentes e formas de tratamento. Para começar, separamos abaixo informações relevantes sobre cada um dos 5 principais tipos de esquizofrenia:
Esquizofrenia paranoide ou paranoica
Geralmente surge mais tarde do que a média, é caracterizada por constantes alucinações ou delírios e pode provocar alterações na fala, nos pensamentos e na forma como o indivíduo expressa suas emoções.
Esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada
Comum entre os 15 e 25 anos, o paciente com este tipo da doença apresenta comportamentos e pensamentos desorganizados com frequência. O discurso muitas vezes é desconexo e alucinações, quando ocorrem, costumam ser rápidas.
Esquizofrenia catatônica
O indivíduo apresenta comportamento atípico em seus movimentos e na fala. Pode ser muito agitado, mover-se muito pouco ou ainda permanecer por longos períodos de tempo em posições anormais e aparentemente desconfortáveis.
Esquizofrenia simples
Sem apresentar alucinações ou delírios, os sintomas de esquizofrenia levam o paciente a perder progressivamente sua capacidade de interação social.
Esquizofrenia indiferenciada
Tem esse nome porque, geralmente, reúne características típicas de outros tipos de esquizofrenia, como paranoide, hebefrênica ou catatônica.
O que provoca a esquizofrenia?
Como ocorre com diversos transtornos psiquiátricos, as causas da esquizofrenia ainda não são totalmente conhecidas, mas acredita-se que uma série de fatores possa estar por trás dela.
Após várias pesquisas terem sido feitas, constatou-se que cerca de 50% dos casos da doença são decorrentes de fatores ambientais e os outros 50% de fatores genéticos.
Há evidências científicas que mostram que a esquizofrenia pode estar presente desde a formação do cérebro do bebê, embora ela só se manifeste anos depois.
E aí entram fatores ambientais considerados de risco e que, de alguma forma, podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno. Grande parte está relacionado à gravidez, mas alguns são intrínsecos da vida adulta. Confira:
Durante a gestação
- Rubéola, herpes, gripes e outros tipos de virose durante o segundo trimestre;
- Desnutrição materna;
- Acontecimento de alto impacto emocional na vida da mãe, como falecimento do marido;
- Gravidez indesejada;
- Depressão durante a gravidez;
- Desenvolvimento anormal do feto (pouco peso, prematuridade, malformações congênitas etc.);
- Exposição a toxinas;
- Tabagismo;
Durante o parto
- Complicações, como diabetes gestacional, sangramento na gravidez e pré-eclâmpsia;
- Falta de oxigênio para o feto;
- Interação atípica ou inexistente entre mãe e bebê (ausência de amamentação, por exemplo);
Primeira infância
- Infecções que acometem o sistema nervoso central, como meningite, encefalite ou sarampo;
- Vivenciar experiências psicológicas negativas, como traumas relacionados a abuso sexual, bullying, entre outros.
Adolescência
- Abuso de substâncias lícitas (cigarro e álcool) e ilícitas (LSD e maconha).
Sintomas de esquizofrenia
Os sinais e sintomas de esquizofrenia variam muito de acordo com o tipo e o paciente. Eles podem aparecer de repente, de forma abrupta, como também podem surgir aos poucos.
Em geral, o transtorno pode ser percebido ao observar alguns comportamentos atípicos e, principalmente, que se repetem com relativa frequência, tais como:
- Escutar ou ver algo que não existe;
- Permanecer em posições estranhas por longos períodos;
- Estar o tempo todo com a sensação de que está sendo seguido ou vigiado;
- Alterações na fala, postura, movimentos ou no comportamento de forma geral;
- Mudança na aparência e descaso com higiene pessoal;
- Mudanças de personalidade;
- Apatia em situações atípicas;
- Dificuldade para dormir ou de concentração.
No geral, porém, os sintomas de esquizofrenia clássicos podem ser divididos em dois tipos: os positivos, negativos e cognitivos. Veja como diferenciá-los:
Positivos
- Alucinações: ouvir vozes, enxergar coisas que não são reais, sentir cheiros ou gostos sem razão aparente para tal;
- Delírio: convicção de que algo está acontecendo quando, de fato, não está – sensação de perseguição e espionagem, por exemplo;
- Comportamento agressivo e mudanças de personalidade: ocorrem com frequência, principalmente em pacientes que apresentam alucinações e delírios;
- Pensamentos desordenados: dificuldade em ordenar as próprias ideias se reflete na fala e nos movimentos do corpo, que geralmente são mais agitados do que o normal.
Negativos
- Redução gradativa da expressão das próprias emoções: isso ocorre principalmente por meio da fala e até do tom da voz;
- Falta de vontade para iniciar ou dar prosseguimento a uma atividade específica;
- Sensação de prazer cada vez menor ao longo do tempo;
- Redução da fala.
Cognitivos
- Dificuldade muito grande para tomar decisões;
- Déficit de atenção;
- Dificuldade para compreender até mesmo coisas aparentemente simples;
- Problemas de memória.
Neurológicos
Em alguns casos, o paciente também pode apresentar alguns sintomas de esquizofrenia neurológicos bastante característicos, como tique facial, movimentos bruscos e descoordenados, piscar de olhos bem mais frequente do que o normal, desorientação sobre direita e esquerda, entre outros.
Diagnóstico
Somente a observação de comportamento ou mudança brusca de personalidade não são suficientes para dizer se uma pessoa tem ou não esquizofrenia. Apenas um especialista – psiquiatra ou neurologista – pode fechar o diagnóstico positivo para o transtorno.
Ainda não existe uma forma 100% assertiva para afirmar que um paciente apresenta a doença, mas alguns testes podem ser feitos para eliminar suspeitas de outros problemas de saúde.
Geralmente, são pedidos exames de sangue e de imagem e avaliação psicológica para descartar tumores cerebrais, epilepsia, lúpus e Alzheimer e esclerose múltipla, por exemplo.
Como não existe um exame que confirme a esquizofrenia com total segurança, os médicos adotam alguns critérios para orientar o tratamento. Se o paciente apresenta pelo menos dois sintomas típicos do transtorno – principalmente alucinações, delírios e pensamentos desorganizados – há forte indício do quadro.
Se essas manifestações estão acontecendo há pelo menos quatro semanas e se o paciente já tem apresentado prejuízos sociais ou de aprendizagem há pelo menos seis meses, então geralmente o diagnóstico é positivo para esquizofrenia – e o tratamento deve começar o quanto antes.
Tem cura?
Apesar de muitos não saberem disso, a esquizofrenia é uma doença tratável, ainda que não tenha cura.
Tratamento para esquizofrenia
A doença pode ser muito bem controlada, de modo que a qualidade de vida aumenta consideravelmente e os sintomas de esquizofrenia são controlados quando o tratamento é bem-sucedido.
Geralmente, ele é feito por meio de abordagens diferentes:
Remédios
Remédios prescritos por especialistas de confiança, como antipsicóticos, são necessários para controlar os sintomas de esquizofrenia.
De acordo com o Ministério da Saúde, entre os medicamentos mais utilizados estão clozapina, haloperidol, decanoato de haloperidol, quetiapina e risperidona.
Terapia
A psicoterapia (individual e/ou familiar) é necessária para que o paciente crie consciência sobre como evitar os fatores geradores da esquizofrenia e os familiares entendam como lidar com o ente querido com o distúrbio.
Hospitalização
Em casos graves ou durante crises, pode ser necessário internar o paciente para garantir sua melhora e segurança.
Terapia eletroconvulsiva
Os pacientes que não respondem bem a medicação podem passar voluntariamente por sessões de eletroconvulsoterapia, estímulo elétrico indolor que estimula o funcionamento cerebral.
Como conviver com esquizofrenia
Além de seguir à risca o tratamento recomendado pelos médicos, o próprio paciente pode ajudar a si mesmo por meio de algumas práticas no dia a dia:
- Controlar o nível de estresse e ansiedade;
- Procurar sempre dormir bem e evitar gatilhos que provoquem insônia;
- Evitar o uso de drogas e o consumo de bebidas alcoólicas;
- Esforçar-se para sempre estar rodeado de pessoas;
- Meditar diariamente.
A família também pode ajudar
No que diz respeito à família, é fundamental compreender a fundo todas as características por trás da esquizofrenia e como é possível ajudar pacientes a terem uma qualidade de vida melhor.
Ajudar a lembrar sempre do uso correto de medicamentos, iniciar terapia e compreender que nem sempre a pessoa estará consciente do que faz são algumas dicas.
Complicações
A falta de tratamento da esquizofrenia pode gerar consequências graves, tais como:
- Autolesões
- Suicídio
- Depressão
- Ansiedade
- Prejuízos financeiros
- Vícios em álcool ou drogas
- Isolamento
- Conflitos na família
- Agressividade
Prevenção
Ainda não há maneiras certeiras de prevenir o transtorno, contudo, após o diagnóstico, os sintomas podem ser evitados por meio do tratamento adequado para esquizofrenia.
Fontes
Ministério da Saúde. Esquizofrenia. Disponível em: portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/02/pcdt-esquizofrenia-livro-2013.pdf
American Psychiatric Association. What Is Schizophrenia? Disponível em: www.psychiatry.org/patients-families/schizophrenia/what-is-schizophrenia
National Health System. Overview – Schizophrenia. Disponível em: www.nhs.uk/conditions/schizophrenia