Esquizofrenia: o que é, sintomas, causas e como tratar

Atualizado em 10 de setembro de 2019

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POR Vinícius De Vita

Esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico caracterizado por alteração no funcionamento do cérebro que faz com que o paciente não consiga diferenciar o real do imaginário.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 21 milhões de pessoas em todo o mundo apresentam a doença, que geralmente aparece no fim da adolescência e início da vida adulta. Ainda de acordo com a entidade, pelo menos metade dos pacientes com esquizofrenia não recebem tratamento adequado.

Entre outros fatores, isso pode acontecer porque, quando manifestada na adolescência – período bastante marcado por conflitos naturais típicos dessa fase da vida – muitas vezes acaba passando despercebida.

Tipos de esquizofrenia

 

tipos de esquizofrenia
Kateryna Kon/Shutterstock

Existe muita desinformação no que diz respeito à esquizofrenia. Ao contrário do que muitos podem pensar, pessoas com esse transtorno não são perigosas e tampouco possuem dupla personalidade.

Muitas vezes, a condição é compreendida como um transtorno associado à presença de alucinações, mas nem sempre é o caso.

Por isso, é extremamente importante estar ciente do que realmente está por trás da doença, seus sinais mais frequentes e formas de tratamento. Para começar, separamos abaixo informações relevantes sobre cada um dos 5 principais tipos de esquizofrenia:

Esquizofrenia paranoide ou paranoica

Geralmente surge mais tarde do que a média, é caracterizada por constantes alucinações ou delírios e pode provocar alterações na fala, nos pensamentos e na forma como o indivíduo expressa suas emoções.

Esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada

Comum entre os 15 e 25 anos, o paciente com este tipo da doença apresenta comportamentos e pensamentos desorganizados com frequência. O discurso muitas vezes é desconexo e alucinações, quando ocorrem, costumam ser rápidas.

Esquizofrenia catatônica

O indivíduo apresenta comportamento atípico em seus movimentos e na fala. Pode ser muito agitado, mover-se muito pouco ou ainda permanecer por longos períodos de tempo em posições anormais e aparentemente desconfortáveis.

Esquizofrenia simples

Sem apresentar alucinações ou delírios, os sintomas de esquizofrenia levam o paciente a perder progressivamente sua capacidade de interação social.

Esquizofrenia indiferenciada

Tem esse nome porque, geralmente, reúne características típicas de outros tipos de esquizofrenia, como paranoide, hebefrênica ou catatônica.

O que provoca a esquizofrenia?

Como ocorre com diversos transtornos psiquiátricos, as causas da esquizofrenia ainda não são totalmente conhecidas, mas acredita-se que uma série de fatores possa estar por trás dela.

Após várias pesquisas terem sido feitas, constatou-se que cerca de 50% dos casos da doença são decorrentes de fatores ambientais e os outros 50% de fatores genéticos.

Há evidências científicas que mostram que a esquizofrenia pode estar presente desde a formação do cérebro do bebê, embora ela só se manifeste anos depois.

E aí entram fatores ambientais considerados de risco e que, de alguma forma, podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno. Grande parte está relacionado à gravidez, mas alguns são intrínsecos da vida adulta. Confira:

Durante a gestação

  • Rubéola, herpes, gripes e outros tipos de virose durante o segundo trimestre;
  • Desnutrição materna;
  • Acontecimento de alto impacto emocional na vida da mãe, como falecimento do marido;
  • Gravidez indesejada;
  • Depressão durante a gravidez;
  • Desenvolvimento anormal do feto (pouco peso, prematuridade, malformações congênitas etc.);
  • Exposição a toxinas;
  • Tabagismo;

Durante o parto

  • Complicações, como diabetes gestacional, sangramento na gravidez e pré-eclâmpsia;
  • Falta de oxigênio para o feto;
  • Interação atípica ou inexistente entre mãe e bebê (ausência de amamentação, por exemplo);

Primeira infância

  • Infecções que acometem o sistema nervoso central, como meningite, encefalite ou sarampo;
  • Vivenciar experiências psicológicas negativas, como traumas relacionados a abuso sexual, bullying, entre outros.

Adolescência

  • Abuso de substâncias lícitas (cigarro e álcool) e ilícitas (LSD e maconha).

Sintomas de esquizofrenia

Os sinais e sintomas de esquizofrenia variam muito de acordo com o tipo e o paciente. Eles podem aparecer de repente, de forma abrupta, como também podem surgir aos poucos.

Em geral, o transtorno pode ser percebido ao observar alguns comportamentos atípicos e, principalmente, que se repetem com relativa frequência, tais como:

  • Escutar ou ver algo que não existe;
  • Permanecer em posições estranhas por longos períodos;
  • Estar o tempo todo com a sensação de que está sendo seguido ou vigiado;
  • Alterações na fala, postura, movimentos ou no comportamento de forma geral;
  • Mudança na aparência e descaso com higiene pessoal;
  • Mudanças de personalidade;
  • Apatia em situações atípicas;
  • Dificuldade para dormir ou de concentração.

No geral, porém, os sintomas de esquizofrenia clássicos podem ser divididos em dois tipos: os positivos, negativos e cognitivos. Veja como diferenciá-los:

Positivos

  • Alucinações: ouvir vozes, enxergar coisas que não são reais, sentir cheiros ou gostos sem razão aparente para tal;
  • Delírio: convicção de que algo está acontecendo quando, de fato, não está – sensação de perseguição e espionagem, por exemplo;
  • Comportamento agressivo e mudanças de personalidade: ocorrem com frequência, principalmente em pacientes que apresentam alucinações e delírios;
  • Pensamentos desordenados: dificuldade em ordenar as próprias ideias se reflete na fala e nos movimentos do corpo, que geralmente são mais agitados do que o normal.

Negativos

  • Redução gradativa da expressão das próprias emoções: isso ocorre principalmente por meio da fala e até do tom da voz;
  • Falta de vontade para iniciar ou dar prosseguimento a uma atividade específica;
  • Sensação de prazer cada vez menor ao longo do tempo;
  • Redução da fala.

Cognitivos

  • Dificuldade muito grande para tomar decisões;
  • Déficit de atenção;
  • Dificuldade para compreender até mesmo coisas aparentemente simples;
  • Problemas de memória.

Neurológicos

Em alguns casos, o paciente também pode apresentar alguns sintomas de esquizofrenia neurológicos bastante característicos, como tique facial, movimentos bruscos e descoordenados, piscar de olhos bem mais frequente do que o normal, desorientação sobre direita e esquerda, entre outros.

Diagnóstico

Somente a observação de comportamento ou mudança brusca de personalidade não são suficientes para dizer se uma pessoa tem ou não esquizofrenia. Apenas um especialista – psiquiatra ou neurologista – pode fechar o diagnóstico positivo para o transtorno.

Ainda não existe uma forma 100% assertiva para afirmar que um paciente apresenta a doença, mas alguns testes podem ser feitos para eliminar suspeitas de outros problemas de saúde.

Geralmente, são pedidos exames de sangue e de imagem e avaliação psicológica para descartar tumores cerebrais, epilepsia, lúpus e Alzheimer e esclerose múltipla, por exemplo.

Como não existe um exame que confirme a esquizofrenia com total segurança, os médicos adotam alguns critérios para orientar o tratamento. Se o paciente apresenta pelo menos dois sintomas típicos do transtorno – principalmente alucinações, delírios e pensamentos desorganizados – há forte indício do quadro.

Se essas manifestações estão acontecendo há pelo menos quatro semanas e se o paciente já tem apresentado prejuízos sociais ou de aprendizagem há pelo menos seis meses, então geralmente o diagnóstico é positivo para esquizofrenia – e o tratamento deve começar o quanto antes.

Tem cura?

Apesar de muitos não saberem disso, a esquizofrenia é uma doença tratável, ainda que não tenha cura.

Tratamento para esquizofrenia

A doença pode ser muito bem controlada, de modo que a qualidade de vida aumenta consideravelmente e os sintomas de esquizofrenia são controlados quando o tratamento é bem-sucedido.

Geralmente, ele é feito por meio de abordagens diferentes:

Remédios

Remédios prescritos por especialistas de confiança, como antipsicóticos, são necessários para controlar os sintomas de esquizofrenia.

De acordo com o Ministério da Saúde, entre os medicamentos mais utilizados estão clozapina, haloperidol, decanoato de haloperidol, quetiapina e risperidona.

Terapia

A psicoterapia (individual e/ou familiar) é necessária para que o paciente crie consciência sobre como evitar os fatores geradores da esquizofrenia e os familiares entendam como lidar com o ente querido com o distúrbio.

Hospitalização

Em casos graves ou durante crises, pode ser necessário internar o paciente para garantir sua melhora e segurança.

Terapia eletroconvulsiva

Os pacientes que não respondem bem a medicação podem passar voluntariamente por sessões de eletroconvulsoterapia, estímulo elétrico indolor que estimula o funcionamento cerebral.

Como conviver com esquizofrenia

Além de seguir à risca o tratamento recomendado pelos médicos, o próprio paciente pode ajudar a si mesmo por meio de algumas práticas no dia a dia:

  • Controlar o nível de estresse e ansiedade;
  • Procurar sempre dormir bem e evitar gatilhos que provoquem insônia;
  • Evitar o uso de drogas e o consumo de bebidas alcoólicas;
  • Esforçar-se para sempre estar rodeado de pessoas;
  • Meditar diariamente.

A família também pode ajudar

No que diz respeito à família, é fundamental compreender a fundo todas as características por trás da esquizofrenia e como é possível ajudar pacientes a terem uma qualidade de vida melhor.

Ajudar a lembrar sempre do uso correto de medicamentos, iniciar terapia e compreender que nem sempre a pessoa estará consciente do que faz são algumas dicas.

Complicações

A falta de tratamento da esquizofrenia pode gerar consequências graves, tais como:

  • Autolesões
  • Suicídio
  • Depressão
  • Ansiedade
  • Prejuízos financeiros
  • Vícios em álcool ou drogas
  • Isolamento
  • Conflitos na família
  • Agressividade

Prevenção

Ainda não há maneiras certeiras de prevenir o transtorno, contudo, após o diagnóstico, os sintomas podem ser evitados por meio do tratamento adequado para esquizofrenia.

 

Fontes

Ministério da Saúde. Esquizofrenia. Disponível em: portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/02/pcdt-esquizofrenia-livro-2013.pdf

American Psychiatric Association. What Is Schizophrenia? Disponível em: www.psychiatry.org/patients-families/schizophrenia/what-is-schizophrenia

National Health System. Overview – Schizophrenia. Disponível em: www.nhs.uk/conditions/schizophrenia