Sífilis: infecção pode ficar adormecida por anos no organismo

Atualizado em 14 de junho de 2018

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POR Gabriela Simionato

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) provocada por bactéria, de fácil transmissão e que muitas vezes não manifesta sintomas no início. No mundo inteiro, ela tem sido motivo de preocupação de diversas autoridades de saúde pública.

Somente no Brasil, segundo levantamento do Ministério da Saúde, houve aumento de quase 28% no número de novos casos de sífilis adquirida — transmitida por via sexual — entre 2015 e 2016. Já os números relativos à sífilis congênita, ou seja, transmitida de mãe para filho durante a gestação, apesar de bem estarem bem melhores do que há alguns anos, ainda preocupam em países menos desenvolvidos, especialmente da África.

Causas da sífilis

A infecção é causada pela bactéria Treponema pallidum e possui diversos estágios. Como a maior parte das infecções sexualmente transmissíveis, a sífilis também é transmitida pelo não uso de preservativo durante a relação sexual.

Apesar disso, por ser altamente contagiosa, a sífilis pode ser passada apenas pelo contato entre peles.

“É uma doença presente no mundo inteiro e de evolução crônica, que se inicia com manifestações cutâneas e mucosas temporárias, mas que pode acarretar em uma série de complicações com o passar do tempo. Se não tratada em suas fases iniciais, a sífilis pode progredir para outros problemas sérios de saúde, que comprometem todo o organismo, mas principalmente os olhos, pele, ossos, coração, cérebro e sistema nervoso”, explica Carolina Lázari, assessoria médica para Análises Clínicas em Infectologia do Fleury Medicina e Saúde.

Sífilis congênita 

A sífilis congênita é o tipo da doença que é transmitida da mãe para a criança ainda durante a gestação. Se não for tratada ainda no pré-natal, a sífilis congênita pode levar a diversas complicações, como aborto espontâneo, parto prematuro, má-formação do feto, surdez, cegueira e deficiência mental. “Por isso, é importante fazer o teste para detectar a sífilis durante o pré-natal e, quando o resultado for positivo, tratar corretamente a mulher e seu parceiro sexual para evitar a transmissão vertical”, alerta Regia Damous, infectologista do Hospital e Maternidade São Luiz.

Nestes casos, o tratamento é feito à base de penicilina, com a indicação e aplicação realizada por um profissional de saúde. Já o diagnóstico pode ser feito por meio de exames de sangue, mas em alguns casos pode ser necessário o exame específico no líquor, o líquido que banha as estruturas do sistema nervoso central.

Sintomas da sífilis

Os sintomas iniciais da sífilis incluem lesões duras — porém nem sempre doloridas — nos órgãos genitais, embora também possam aparecer no ânus, na pele, na gengiva, na palma das mãos e até mesmo na planta dos pés. “As lesões podem desaparecer em alguns dias, porém, a doença continua ativa no organismo, podendo provocar outros sintomas como manchas avermelhadas na pele e nas mucosas, além de alterações no sistema nervoso”, explica Clícia Quadros, ginecologista e especialista em saúde da mulher.

Ínguas na virilha, que não apresentam pus ou sangramento, também podem aparecer. Com o desaparecimento das manchas, que podem ser identificadas por meio de exame clínico, no entanto, somente um teste laboratorial é capaz de identificar a doença. Esse diagnóstico é feito por meio de um exame de sorologia completa.

Estágios da sífilis

Como os principais sintomas das fases iniciais da sífilis tendem a desaparecer depois um tempo, é comum ter a falsa ideia de que o problema foi resolvido espontaneamente. Acontece que a sífilis é uma doença com diferentes estágios, e às vezes a bactéria pode permanecer em estado latente no organismo por anos e anos.

Em geral, a doença é dividida em três estágios: primário, secundário e terciário. As duas primeiras fases apresentam as características mais marcantes da infecção, quando se observam os principais sintomas e também quando há mais possibilidade de transmissão.

Após o fim da segunda fase, a sífilis aparentemente desaparece por um longo período de tempo, ficando num estado de latência dentro do organismo. Embora não haja manifestação de sintomas, ela ainda é potencialmente transmissível. Pode acontecer, também, de a sífilis latente voltar a apresentar sintomas típicos da segunda fase da doença, e não necessariamente avançar para a fase terciária.

“Quando a terceira fase chega, porém, ela passa a atingir diversos órgãos, que, tomados pela bactéria, começam a se inflamar lenta e progressivamente, resultando num quadro grave que pode deixar sequelas irreversíveis”, analisa Carolina.

Abaixo, conheça um pouco mais sobre as principais características de cada estágio da sífilis:

Sífilis primária

  • Possibilidade de transmissão é maior do que em outros estágios da doença;
  • Surge geralmente uma única ferida no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais da pele), que aparece entre dez e 90 dias após o contágio. Não dói, não coça, não arde e não tem pus, e pode estar acompanhada de ínguas (caroços) na região da virilha;
  • Exames de sangue costumam dar negativo à sífilis nessa fase. O  diagnóstico deve ser feito pela pesquisa direta do Treponema (bactéria que causa a doença) no material obtido por meio da raspagem do local da lesão.

Sífilis secundária

  • Possibilidade de transmissão também é grande;
  • Sinais e sintomas podem aparecer entre seis semanas a seis meses após o surgimento da ferida inicial;
  • É comum surgirem manchas no corpo, inclusive nas palmas das mãos e nas plantas dos pés.

Sífilis latente

  • Fase assintomática que pode durar por muitos anos;
  • Ainda assim, é potencialmente transmissível.

Sífilis terciária

  • Pode surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção;
  • Podem surgir lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

Por que tratar a sífilis?

Os especialistas ressaltam a importância de um tratamento especializado, sem seguir receitas carreiras. “Sem tratamento, a sífilis pode evoluir em vários órgãos do corpo do indivíduo, em que se manifesta de diversas formas e que pode, também, variar de gravidade”, explica Carolina.

Segundo ela, a sífilis não tratada pode levar a doenças graves como meningite, isquemias cerebrais, aneurisma (dilatação) da artéria aorta, lesões destrutivas de pele, ossos e vísceras internas e inflamação das estruturas dos olhos, entre outras. “A doença ativa também pode aumentar o risco de contrair HIV e, nas mulheres, pode causar complicações na gravidez, como aborto ou natimorto, ou o nascimento de crianças com a sífilis congênita”, completa.

Como se proteger?

Devido ao fato de não haver uma vacina que proteja contra sífilis, os especialistas explicam que a melhor forma de se prevenir é usando preservativos desde o início da relação sexual. Ou seja, começar o ato sem camisinha e interromper no meio para colocar não adianta, uma vez que a infecção pode ser transmitida já pelo contato de pele.

Além disso, é recomendado realizar exames de sorologia completa uma vez a cada seis meses para garantir.