Transtorno de ansiedade generalizada (TAG): como identificar e tratar?

Atualizado em 13 de agosto de 2019

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POR Gabriele Amorim

Sentir-se paralisado, apreensivo ou não conseguir tomar decisões básicas do cotidiano podem ser sinais de transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o tipo mais comum dos distúrbios de ansiedade.

Geralmente, o quadro é apresentado por pessoas vistas como nervosas, sem paciência, multitarefas, que pensam muito no futuro ou se cobram demais. As preocupações surgem de forma constante, de modo que há imensa dificuldade em esquecê-las, então o paciente fica em estado de hipervigilância – que deveria ocorrer somente em situações com iminente risco à vida – a todo o momento.

Como consequência, há prejuízos à esfera profissional, social e amorosa da pessoa com ansiedade. E, acredite, elas não são poucas: de acordo com Organização Mundial da Saúde, 20 milhões de brasileiros apresentam a forma crônica do transtorno.

Felizmente, há alternativas para tratar e curar o transtorno de ansiedade generalizada e elas são menos complicadas do que parecem.

O que é ansiedade generalizada?

Transtorno de ansiedade generalizada (CID 10 – F41.1) é um distúrbio psicológico caracterizado principalmente pela sensação difusa, vaga e desagradável de preocupação excessiva ou expectativa apreensiva.

O problema surge devido a anormalidades no mecanismo de defesa do corpo que encaram situações comuns como ameaças e liberam uma série de substâncias que gera sintomas desagradáveis.

Qual a diferença entre ansiedade normal e generalizada?

A ansiedade fisiológica é vivida por todos os seres humanos e ocorre perante situações que geram grande expectativa, como uma entrevista de emprego, um encontro ou um desafio. Ela não faz mal à saúde, pelo contrário, visto que pode até nos preparar para possíveis riscos e ajudar a tomar decisões.

Já o transtorno de ansiedade generalizada surge como um fator paralisador que dificulta ou impede a execução de tarefas cotidianas e tomada de decisões. Ela vem juntamente com sintomas físicos, dura no mínimo seis meses e causa prejuízo à carreira e aos relacionamentos do indivíduo.

Causas

O transtorno de ansiedade generalizada costuma ser fruto de fatores multifatoriais, entre eles predisposição genética a alterações em neurotransmissores que favorecem a ansiedade, como serotonina, dopamina e noradrenalina. Além disso, outras situações podem contribuir para o quadro:

  • Histórico de experiências estressantes ou traumáticas
  • Violência doméstica
  • Violência psicológica
  • Abuso sexual
  • Bullying
  • Histórico de alcoolismo ou uso de outras drogas

Grupos de risco

O transtorno de ansiedade generalizada pode acontecer em qualquer idade. Contudo, observa-se que o quadro é ainda mais comum em pessoas em período de transição como adolescência para a vida adulta, aposentadoria, ingresso na faculdade, mudança de emprego, entre outros. 

Sinais e sintomas

O sintomas de ansiedade afetam tanto o corpo quanto a mente. Confira:

Físicos

  • Tensão muscular
  • Dores
  • Tremores
  • Cansaço e fadiga constantes
  • Dores de cabeça
  • Sensação de infarto
  • Sudorese
  • Tontura
  • Enjoo
  • Dificuldade para respirar
  • Ondas de frio ou calor
  • Formigamento

Psicológicos

  • Tristeza
  • Inquietação
  • Dificuldade de concentração
  • Pertubação do sono
  • Irritabilidade 
  • Sentimento de culpa constante
  • Falta de perspectiva para o futuro
  • Fluxo de pensamentos muito rápido
  • Sensação de irrealidade
  • Hipersensibilidade a sons

Em casos mais graves, o paciente apresenta crises de ansiedade generalizada combinadas com sensação de pânico extremo.

Diagnóstico

Como não existem exames para identificar ansiedade, o diagnóstico é obtido de forma clínica, ou seja, baseado em uma conversa com psicólogo e/ou psiquiatra que abordará temas como histórico familiar ou pessoal de transtornos mentais, vida atual, uso de substâncias químicas, duração dos sintomas, entre outros.

Durante o processo, também são investigadas possíveis causas patológicas de ansiedade, como disfunções na tireoide e alterações hormonais, cardíacas ou neurológicas. 

Portanto, consultar-se com um especialista é de extrema importância para descobrir as causas da ansiedade generalizada e, dessa forma, tratá-las corretamente.

Tem cura?

Quando tratada corretamente por profissionais especializados, a ansiedade generalizada pode ser curada, garantindo melhor qualidade de vida para quem a vivencia.

Tratamentos

Os tratamentos têm como objetivo reduzir a apreensão e os demais desconfortos, além de ensinar o paciente a evitar e controlar as crises de ansiedade generalizada.

Os cuidados incluem cinco frentes:

Psicoterapia

São conversas entre paciente e psicólogo nas quais são tratados não apenas temas inerentes ao transtorno, mas também lembranças e situações atuais. O objetivo do método é desconstruir o ciclo de pensamento ansioso do paciente, de modo a ensiná-lo a lidar e controlar a ansiedade generalizada.

Medicamentos

Casos moderados e graves de ansiedade, como os que apresentam sintomas físicos, devem ser tratados com medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, como a fluoxetina. Tais remédios não causam dependência e nem alteram drasticamente o comportamento do indivíduo, o deixando apenas mais equilibrado e menos ansioso. Esse tratamento sempre deve ser seguido em conjunto com a psicoterapia.

Auto-observação

Por meio da terapia, o paciente aprende a observar seu próprio comportamento e questionar se a ansiedade é justificável ou não.

Prática de atividades físicas

Exercícios liberam neurotransmissores que são deficientes em casos de ansiedade, depressão e outros transtornos psicológicos. Além disso, atividades físicas melhoram a autoestima e são um bom campo para socialização.

Tratamentos complementares

Meditação, acupuntura, aromaterapia e outras terapias alternativas podem complementar o tratamento tradicional, de modo a fazer o paciente se sentir melhor.

Prognóstico

O prognóstico é muito bom quando o tratamento é seguido adequadamente. Além disso, acompanhamento psicológico, mesmo após a cura, é de extrema importância para que o problema não retorne.

Complicações

Qualquer tipo de transtorno de ansiedade não tratado pode resultar em prejuízos severos em diversos aspectos da vida de quem o vivencia.

Além disso, o quadro pode gerar outros transtornos, como depressão e síndrome do pânico, levando ao suicídio em casos graves.

Prevenção 

Não existe uma maneira única de evitar o transtorno de ansiedade generalizada, mas uma série de medidas que pode reduzir a chance de desenvolvimento. Entre elas, está praticar atividades físicas, evitar estresse intenso, dormir bem, fazer terapia perante situações difíceis de lidar e atentar-se às diferenças entre ansiedade normal e patológica.

Quando sentimentos e sensações se tornam incômodos ou impeditivos na rotina de uma pessoa, é preciso procurar ajuda especializada.

Fontes

Psiquiatra Lívia Beraldo de Lima Basseres, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq) – CRM 130112.

NHS. Generalised anxiety disorder in adults. Disponível em: www.nhs.uk/conditions/generalised-anxiety-disorder